Com a chegada de mais umas eleições autárquicas, que terão lugar no próximo domingo, vivemos novamente aquele momento cíclico em que o poder local volta a estar no centro das atenções, ainda que, paradoxalmente, nem sempre com a profundidade e o foco que seria desejável. A campanha que está prestes a terminar está a ser marcada, em muitos casos, por um excesso de ruído e por uma preocupante escassez de debate sério sobre as reais necessidades das freguesias e dos municípios.
Assistimos a uma corrida desenfreada a promessas, muitas delas irrealistas, ilusórias ou claramente desajustadas da realidade financeira, legal ou estrutural das autarquias. Promessas que parecem mais pensadas para agradar ao ouvido do eleitor, do que para serem concretizadas no terreno.
Há candidatos que se apresentam com programas extensos e coloridos, mas que raramente explicam como pretendem cumprir aquilo que estão a prometer ao desbarato. E há outros que limitam a sua intervenção a slogans vazios e a acusações fáceis. O debate autárquico, que devia ser centrado nas pessoas, nos serviços públicos locais, na habitação, nos transportes, no urbanismo, na sustentabilidade, fica muitas vezes em segundo plano, abafado por estratégias de comunicação, por guerras partidárias ou por batalhas pessoais entre candidaturas.
Houve debates televisivos para todos os gostos entre uns candidatos conseguiram despertar algum interesse junto dos eleitores outros, nem por isso. Houve pouco confronto de ideias estruturantes, perguntas pertinentes e nem houve muito espaço para propostas concretas. Era possível elevar a discussão política a um nível mais exigente e mais respeitador da inteligência do eleitorado.
A verdade é que, em democracia, não há soluções perfeitas, mas há escolhas que temos que fazer e são os cidadãos que as devem fazer, de forma livre, informada e consciente. É precisamente esta pluralidade, com todos os seus defeitos e virtudes, que dá sentido ao regime democrático.
Se muitos candidatos estão a falhar na forma como comunicam, se os debates foram insuficientes, ou se está a haver mais barulho de altifalantes ensurdecedores do que substância, isso só reforça a importância de o voto ser usado com responsabilidade e consciência do que é melhor para cada concelho e cada freguesia ou vila.
Neste momento, as cartas estão praticamente lançadas. Os programas foram apresentados, os compromissos assumidos, os rostos expostos à exaustão. Agora, cabe a cada eleitor olhar para a sua freguesia, para o seu município, e pensar no que deseja para os próximos quatro anos.
O poder local é, muitas vezes, o mais próximo dos cidadãos e aquele que tem impacto direto na qualidade de vida, no espaço público, nos apoios sociais, na cultura, na resposta a crises e até na identidade de uma comunidade.
No próximo domingo, votar é mais do que um direito, é uma afirmação de cidadania, é e esperamos que sempre seja a verdadeira festa da democracia. E escolher bem é um dever cívico que deve ser assumido com seriedade.
O futuro das nossas vilas, cidades e freguesias constrói-se com ideias sólidas, com responsabilidade, e com o compromisso de servir, pois a democracia, com todos os seus ruídos, continua a ser o melhor caminho para o fazer. Aguardemos com serenidade o que a noite das eleições ditará para os próximos 4 anos.
Eleições Autárquicas: Muito Ruído, Pouco Debate
