Foi com enorme tristeza, mesmo alguma comoção, que recebi a informação televisiva do falecimento de Francisco José Pereira Pinto Balsemão. Um concidadão que pude acompanhar desde a sua presença na Assembleia Nacional, no âmbito do que ficou conhecido por Ala Liberal, de que também fizeram parte José Pedro Pinto Leite, que viria a morrer num desastre aéreo na Guiné, Francisco Sá Carneiro, Joaquim Jorge de Magalhães Mota, João Bosco Mota Amaral, Miller Guerra e alguns outros.
Ainda hoje recordo uma entrevista sua, talvez à Renascença, onde defendeu a necessidade de uma comunicação social livre, mas por igual a sua visita, após insistência forte, a alguns dos presos políticos que se encontravam em Caxias. Escutei aquela entrevista no carro de um amigo meu, à noite, num silêncio que foi sepulcral à medida que Francisco Balsemão ia respondendo às perguntas que lhe eram colocadas.
Do mesmo modo, e como todos os da minha geração, nunca esquecerei o surgimento do seu Expresso, uma verdadeira pedrada no charco noticioso do tempo. As próprias caraterísticas desse tempo político potenciaram imenso a cabalíssima implantação do Expresso e conheço, há muito, o modo, deveras singular, como se relacionava com quantos trabalhavam sob a sua liderança.
Da variada presença minha no Grupo Parlamentar do CDS tive um dia a oportunidade de ser apresentado a Francisco Pinto Balsemão por Diogo Freitas do Amaral, no que foi a única vez em que estive perto de si. Palavras simples, de cortesia, e com a sua tradicional simpatia e que todos reconhecem.
Convém aqui salientar a fantástica ação de companheiros seus do PSD, mas por igual de membros diversos do CDS, que nunca aceitaram cabalmente que Balsemão tivesse sucedido a Francisco Sá Carneiro, após o atentado de Camarate. Chegou-se ao ponto de o apontar, nas convivências correntes partidárias, como estando ao comando do referido atentado! Embora, há que dizê-lo, também tal acusação tivesse chegado a recair sobre o próprio Diogo Freitas do Amaral!! Era o caminhar veloz para o final da Aliança Democrática, surgida na véspera da morte de minha mãe, por decisão de Diogo Freitas do Amaral como consequência (apontada) dos maus resultados das autárquicas imediatamente anteriores. A realidade, de facto, não era essa, antes a incapacidade de aceitar Francisco Balsemão como o sucessor, na liderança da governação, de Sá Carneiro. Ironicamente, muitos dos seus detratores eram também os que haviam contestado Sá Carneiro, agarrando-se à sua mudança familiar…
Muito mais tarde, já longe do vespeiro ativo da vida partidária, viria a lançar a SIC e, algum tempo depois, a SIC Notícias. Uma obra que está aí e para durar. Uma obra que exige que se deite a essencial mão destinada a manter essa outra sua referência, que é o Expresso. Se começou como ponta de cheia, continua hoje a merecer a procura dos realmente interessados num jornalismo da mais alta qualidade.
Ora, num depoimento de ontem, de António José Teixeira a Vítor Gonçalves, o primeiro referiu que Francisco Balsemão nos deixou agora um Portugal melhor do que aquele que recebeu, ao início da sua intervenção essencialmente pública. Bom, foi uma resposta pouco clarificadora perante uma questão mal colocada. A verdade é que Francisco Balsemão nos deixa agora com o Serviço Nacional de Saúde à beira do seu fim. E também com nuvens negras no horizonte das reformas, de parceria com um crescimento da criminalidade violenta e com a chegada de um tempo político onde prevalecem as raízes da intolerância política e social. Embora, como se sabe, tudo isto nada tenha que ver com a intervenção política de Francisco Balsemão.
Por fim, Fátima Campos Ferreira, nessa mesma entrevista, referiu a sua projeção internacional, salientando, entre outras situações, a sua presença no Grupo de Bilderberg. Na circunstância, Vítor Gonçalves referiu-se ao carácter secreto do grupo, mas a verdade é que o mundo caminha para pior. Se no Grupo de Bilderberg se reflete sobre os caminhos para um mundo melhor, bom, a experiência mostra precisamente o contrário.
Termino com a saudade da intervenção pública de Francisco Pinto Balsemão, mas com a certeza de que muito da sua obra vai continuar connosco. E é essencial manter o Expresso, o que exige criatividade ao nível político-social.
