Porque os populismos renascem: um exemplo


Assistimos a um recrudescer do populismo atingindo variadíssimos setores da sociedade, por exemplo: na política com o renascimento de ideologias que julgávamos mortas e enterradas; na economia, com guerras comerciais artificialmente criadas; na sociedade, com o aparecimento e aceitação das mais extravagantes personagens e ideias; na educação, com lutas acérrimas para criar narrativas e controlar a sociedade; nos transportes, com um ódio ao transporte privado, entre outros; no ambiente, que padece do mesmo mal dos transportes por este estar intimamente ligado pelos impactos que causa.
Outros exemplos poderíamos dar se pormenorizássemos cada setor. Todos eles têm algo em comum: a fanatização do ser humano.
Dirá o amigo leitor que a palavra “fanatização” é extremamente forte. Provavelmente será, mas não deixa de ser ajustada ao posicionamento intelectual e ações tomadas pelos novos defensores de causas.
Os transportes e o ambiente são um exemplo fácil de apreender. A mentalidade é reveladora: taxar, taxar, taxar! É isto que vai resolver os impactos ambientais? Absolutamente não. E porquê? Porque não apresenta saída àqueles que não possuem alternativa e pela natureza punitiva das medidas.
Se repararmos todas ou quase todas as medidas de defesa ambiental se resumem a punir – leia-se, a taxar – aqueles que causam impacto ambiental. Há vários exemplos, entre os quais um recente que parece condenado é um imposto global sobre o transporte marítimo. Segundo um artigo da Reuters, o transporte marítimo global representa 3% das emissões de CO2 globais, no entanto movimenta 90% das mercadorias mundiais.
Que representaria na prática este imposto? Simplesmente uma coleta forçada de dinheiro aos consumidores sem qualquer impacto real no ambiente, pelos números acima mencionados e pela óbvia incapacidade de alternativas ao transporte de mercadorias.
Assim, por exemplo, o Canadá que importa bastante fruta pela incapacidade de a produzir na maior parte do ano, veria as frutas aumentarem de preço sem qualquer alternativa possível devido aos seus condicionamentos geográficos.
Os consumidores que fazem contas, mesmo por alto, começam a aperceber-se deste fenómeno, e todos os outros sentem na pele os efeitos e daqui a caírem no populismo anti ambiente é apenas um passo natural.
A saturação, sendo inevitável por encostarmos o cidadão às cordas da exaustão financeira e insegurança de vida pela falta de alternativas, coloca este cidadão no ponto de ebulição exato para os populistas. Há outras ideias peregrinas de taxar a movimentação, pelo menos nas cidades, ao quilómetro e em função do horário dos percursos. O cidadão comum sentindo-se invadido na sua privacidade, violado na sua liberdade e num beco sem saída, nada tem a perder do que entregar as suas escolhas políticas àqueles que encarnam o seu descontentamento, ainda que com desvario.
À mentalidade restritiva e punitiva, deveríamos criar e instar uma mentalidade de desenvolvimento tecnológico no sentido de reduzir o nosso impacto nas áreas mais sensíveis.
Os políticos que se queixam do populismo esquecem-se que eles mesmo estão a ser populistas dentro da sua própria franja de apoiantes, tão fanáticos quanto os seus opositores, criando as condições exatas para o aparecimento dos “outros” populismos.
Uma grande lição que temos encontra-se na história portuguesa.
Recordo-me sempre do século XIX que consolidou a mediocridade e miséria portuguesas.
Por paradoxo, o século onde o liberalismo se apresentou como solução para as sociedades e onde vingou em algumas nações projetando-as para um culminar socioeconómico.
Curiosamente, em Portugal, acentuou apenas o caminho descendente que já trazia do século XVIII tornando Portugal num dos países mais pobres da Europa.
A mesma solução com resultados diferentes.
E porquê?
Porque não existiam as condições necessárias ao seu desenvolvimento, tentou tirar-se batatas de um terreno que não estava sequer amanhado para tal. E aqui vêm os populismos.
Nada constroem, mas são o prenúncio da destruição necessária para uma renovação.
São o fogo que é ateado ao terreno para destruir as pestes instaladas para criar as condições de uma colheita futura.
Era evitável?
Claro que sim. Houvesse vontade, inteligência e capacidade de ação.

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