O Papa do “Todos, Todos, Todos” E O Apagão

No dia 21, segunda-feira de Páscoa, recebíamos a triste notícia da morte do Papa Francisco. Foi um apagão espiritual para a Igreja e para o mundo. Francisco era uma central de energia espiritual, que a todos iluminava.
Oito dias depois, na segunda-feira, dia 28, e quando as redes sociais começavam já a falar dos cardeais “papabili”, a Península Ibérica sofria um apagão técnico e o nosso mundo parou: deixámos de ver, deixamos de nos poder comunicar, e concluímos que já não sabemos viver como dantes.
O Papa Francisco ligou-nos a correntes que nos fizeram ver o mundo por um prisma muito particular. Acendeu holofotes em zonas sombrias que não víamos, ou não queríamos ver. Ajudou-nos a desviar o olhar da boca-de-cena para os bastidores, para essas zonas periféricas onde se ouve o grito da terra, o clamor dos pobres, a rejeição dos imigrantes, as dores das vítimas da guerra e da cultura do descarte.
Com a expressão “todos, todos, todos” na Jornada Mundial da Juventude de 2023, em Lisboa, Francisco reforçou as palavras de Jesus, que nos ensinou a rezar o “Pai Nosso”: não há filhos excedentários. Todos, todos, todos têm lugar no coração do Pai. Logo, todos, todos, todos, têm lugar no coração da Igreja.
Ao cair da noite, os técnicos competentes repuseram a energia. A esta hora, os cardeais em Roma já elegeram um novo Papa. Como não sabemos voltar ao mundo das velas e do rádio-a-pilhas, também não podemos regressar ao mundo antes de Francisco. Que o Espírito Santo ilumine o novo Papa, para que, não só, não se apaguem as luzes acesas por Francisco, mas, também, oriente os holofotes para uma Igreja-cuidadora dos cansados e oprimidos: “Vinde a mim, todos os que andais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mateus 11,28-30).