A Memória como Herança

Duas gerações, uma mesma vocação. Encontro cruzado com Eduino Martins, figura emblemática da diáspora, e Jessie Vieira Machado, uma promessa para o futuro — dois rostos dedicados ao serviço funerário no seio da comunidade portuguesa.
Na grande mosaico que é Montreal, a comunidade portuguesa brilha pela sua solidariedade, tradições e profundos laços familiares. Estas duas gerações, unidas pela mesma profissão e pela mesma comunidade, são testemunho de um compromisso raro: o de servir com coração, dignidade e respeito as famílias enlutadas, dentro dos Espaços MEMORIA.

« Sou um rosto familiar,
e isso transmite confiança »
Eduino Martins leva já 29 anos ao serviço da Memoria. A sua trajetória começou de forma inesperada: «Trabalhava num restaurante português em Montreal, quando um cliente fiel, proprietário da agência funerária, me propôs vir trabalhar com ele. No início, não quis saber. Tinha medo, como toda a gente.» Só depois de uma dor de costas persistente – e uma intuição súbita – aceitou tentar.
«Três horas depois de o ter chamado, ele veio buscar-me de Mercedes. Já me apresentava como o novo conselheiro ! »
Esse primeiro passo, ainda hesitante, marcou o início de uma longa vocação: quase 30 anos ao serviço das famílias.
Hoje, Eduino é muito mais do que um simples conselheiro: é uma figura de referência. Frequenta as igrejas portuguesas, participa em eventos comunitários, acompanha pessoalmente as famílias até à igreja e até ao cemitério.
«Estou sempre disponível. Quando uma família me liga, mesmo antes do falecimento, vou ao hospital se for preciso. É uma questão de presença, de respeito.»
A sua simplicidade e sabedoria fazem dele um exemplo. «Digo às famílias para terem coragem. A morte faz parte da vida. Ninguém fica aqui para sempre.» Mas certas histórias deixam marca. Recorda-se, emocionado, de uma tragédia que o abalou: dois jovens gémeos portugueses que morreram tragicamente.
«Conhecia a família. Via-os quando ainda tinha a minha padaria. Quando morreram, acompanhei-os até à igreja. Até os padres choravam nesse dia.»
Homem de terreno, mentor reconhecido por jovens recrutas como Jessie, Eduino é também um transmissor de valores.
«Esta profissão não é pelo dinheiro. É para ajudar as famílias. Para transmitir. Para estar presente.»
Uma vocação nascida do luto
Ao seu lado, a nova geração tem um nome: Jessie Vieira Machado. Com 30 anos e pai de um menino, integrou a Memoria em 2021, após uma perda pessoal marcante: «O meu filho tinha acabado de nascer e, um mês depois, perdi a minha mãe, com 49 anos. Esse luto transformou-me.» Foi ao cruzar-se com Eduino que Jessie deu o passo.
Começou como assistente geral, fazendo de tudo: receção, transporte, logística. Hoje é conselheiro de famílias. E mais do que isso: «Estou disponível mesmo nos meus dias de folga. Tenho sempre o telefone por perto. Um funeral acontece uma única vez. Não há margem para erro.»
Enraizado na comunidade portuguesa, mais aberto a todas as culturas, Jessie representa uma nova geração — atenta, sensível e empenhada.
«Vou ao cemitério todas as semanas. É a minha forma de homenagear os meus e de ser consistente com o que transmito às famílias.»

Memoria: mais do que uma casa funerária
O que os une, para além dos percursos distintos, é a Memoria: uma empresa que coloca o ser humano no centro, aberta às culturas, crenças e realidades financeiras de cada um.
Eduino nota também uma evolução de mentalidades na comunidade:
«Antes, não se queria falar da morte. Hoje, as famílias procuram-me para fazer pré-arranjos. Até a cremação é mais aceite.»
«Aqui, adaptamo-nos. Acolhemos todos. Propomos até funerais ecológicos, que respondem às novas sensibilidades», acrescenta Jessie.
Ambos insistem na importância da preparação: aliviar os entes queridos, evitar decisões precipitadas, respeitar os desejos da pessoa falecida.
«É um presente que damos a quem amamos», afirma Jessie.
A profissão de conselheiro
de famílias na Memoria
Na Memoria, os conselheiros não são apenas intermediários: estão presentes em todas as etapas – desde os primeiros procedimentos até à cerimónia. Ajudam, escutam, organizam, respeitando sempre as tradições e vontades de cada pessoa.
Uma profissão com futuro,
um legado a transmitir
Num momento em que o setor funerário procura renovar-se, a dupla Eduino–Jessie traz uma mensagem forte: esta profissão tem sentido. É profundamente humana.
«Não é preciso ter um percurso académico perfeito. Basta ter um coração forte, saber escutar e respeitar», conclui Jessie.
E Eduino, sorrindo ao olhar para o seu jovem colega: «A passagem da tocha de uma geração para a outra. O futuro esta em boas maos.»
Cada vida é uma história. Na Memoria, zelamos para que ela seja homenageada com ternura e respeito — junto das famílias, no coração da comunidade.

Laisser un commentaire

Votre adresse courriel ne sera pas publiée. Les champs obligatoires sont indiqués avec *