O Quarteto Fantástico

Até 2025, as revistas em quadrinhos do Quarteto Fantástico nunca tinham sido bem adaptadas para o cinema. Mesmo depois de três tentativas com bons elencos, a franquia acumulava mais falhas do que sucessos. Talvez, por uma ironia do Destino, seja a quarta versão da história a finalmente fazer justiça a uma das famílias mais importantes do catálogo da Marvel. E, adicionando mais uma ironia ao facto, Quarteto Fantástico: Primeiros Passos alcança esse feito justamente por não ser, necessariamente, um filme focado em super-heróis enfrentando vilões, mas sim em parentes que convivem uns com os outros.

The Fantastic Four: First Steps | Final Trailer | Only in Theaters July 25

Quantas cenas pós-créditos tem Quarteto Fantástico?

Desta vez, a primeira família da Marvel retorna aos cinemas com Pedro Pascal a interpretar Reed Richards, o Senhor Fantástico, ao lado de Vanessa Kirby como Sue Storm/Mulher-Invisível. Joseph Quinn dá vida ao galanteador Johnny Storm, ou Tocha-Humana, enquanto Ben Grimm, o Coisa, é interpretado por Ebon Moss-Bachrach. Embora vivam personagens tão típicos de quadrinhos, o elenco é responsável por transformar o núcleo familiar e as suas dinâmicas num dos aspectos mais interessantes e realistas do MCU.

Embora a sinopse de Primeiros Passos prometa um Quarteto Fantástico retrofuturista enfrentando diversos inimigos e protegendo a Terra-828 de Galactus (Ralph Ineson) e seu arauto, o Surfista Prateado (Julia Garner), tudo funciona como um pano de fundo para algo muito mais significativo. Aqui, as dinâmicas interpessoais são mais fortes do que os poderes fantásticos, definindo o tom de toda a produção. Da mesma forma, as fraquezas de cada personagem não se tornam armas para os adversários, mas sim problemas a serem resolvidos em conjunto. Nada importa mais do que a família — e esse é o maior diferencial do filme de Matt Shakman em relação a tudo o que o Marvel Studios nos entregou até agora.

Isso não significa, no entanto, que o foco na família Richards/Storm/Grimm isente o filme de momentos de tensão ou grandes desafios pessoais. Afinal, amar é proteger e, por vezes, proteger exige grandes sacrifícios. Um exemplo disso ocorre quando Galactus tenta sequestrar Franklin Richards, o filho recém-nascido de Reed e Sue, alegando que a criança é poderosa demais, o que leva os heróis a arriscarem as suas vidas para proteger o bebé. O bebê torna-se uma moeda de troca, unindo a trama e a temática de uma forma que intensifica ainda mais a tensão familiar — e exige muito mais do elenco, que entrega atuações extraordinárias.

Se as atuações estão perfeitamente em sintonia com o tom do filme, o mesmo não se pode dizer sobre o CGI, que apresenta altos e baixos. Ainda assim, ele consegue disfarçar as cenas mais carentes de pós-produção ao focar no que era mais esperado pelos fãs — o efeito borracha do Senhor Fantástico, o Surfista Prateado em movimento e Galactus. Os efeitos não são perfeitos, mas até quando vamos nos guiar pela computação gráfica antes de valorizarmos o fator humano e prático nas produções? Até porque, a direção artística deste filme é uma das mais belas do MCU.

Quarteto Fantástico é bom?

Um erro maior surge na escolha de evitar algumas questões que ficam « no ar » em vários momentos do roteiro. Ao se afirmar como a representação de uma sociedade futurista, a produção deixa subentendido que questões como igualdade de género e raciais não influenciam tanto o quotidiano. Esta escolha, por mais positiva que possa parecer, acaba por esconder esta versão dos Estados Unidos atrás de uma cortina retro-utópica, estampada unicamente com uma imagem idealizada de uma família perfeita.

Este tropeço, no entanto, não apaga a realidade de que Matt Shakman fez um trabalho poderoso com o roteiro de Josh Friedman, Eric Pearson, Ian Springer e Jeff Kaplan. Este quarteto extraiu nos mínimos detalhes o significado de ser uma família, não apenas nos grandes dramas, mas também nos pequenos momentos do dia-a-dia: maridos que não encontram as suas próprias coisas, tios com dificuldades em afivelar uma cadeirinha de criança. Aqui, essas pequenas coisas são tão importantes quanto uma viagem espacial para salvar a Terra. Quarteto Fantástico: Primeiros Passos não é um filme perfeito, mas funciona muito bem quando é necessário. Afinal, todas as famílias são assim, não são?

Laisser un commentaire

Votre adresse courriel ne sera pas publiée. Les champs obligatoires sont indiqués avec *