Champions: Benfica 2-0 Nápoles

Finalmente fez-se Luz

Se até agora o Benfica praticamente só podia agarrar-se à matemática para ambicionar seguir em frente na Liga dos Campeões, nesta quarta-feira à noite as águias mostraram que também podem chegar ao play-off sustentados por qualidade de jogo.
Diante do Nápoles, campeão italiano e única equipa, até terça-feira ao final da tarde, que havia batido o Sporting na prova, a equipa de José Mourinho teve os melhores 90 minutos da época 2025/26.
Replicou os índices competitivos do dérbi com o Sporting, mas acrescentou-lhes capacidade criativa, objetividade e conseguiu eliminar os erros primários que tantos pontos – na Champions e no campeonato – lhe custaram desde os dias do fim de Bruno Lage em setembro e que nem o espartanismo de Mourinho resolveu. E a noite até começou com sinais de déjà vu. Tal como diante do Leverkusen há um mês, mas de forma talvez ainda mais gritante agora, os encarnados entraram fortes e a lamentar ocasiões de golo desperdiçadas. Ivanovic primeiro e, depois, Aursnes, em dois momentos que provocaram picos de tensão nas bancadas da Luz. Mas nessas duas jogadas estava quase tudo aquilo que o Benfica teria de fazer para pôr fim a uma sequência de sete jogos sem ganhar em casa na fase de liga da Champions: a certeza de como explorar os pontos fracos do adversário e a importância de forçar erros em zonas críticas do campo como alguém fizera às águias dias antes. Para o sucesso absoluto da sua estratégia, Mourinho contou, claro, com aliados de peso. Com o critério de Sudakov com bola, com a capacidade de Ríos tem em jogos deste perfil, com a disciplina de uma defesa que hoje teve Tomás Araújo ao lado de Otamendi e a enorme capacidade de trabalho de Ivanovic, surpreendentemente titular no lugar de Pavlidis.
Na execução subtil de Ríos aos 20 minutos que terminou com a bola no fundo das redes dos napolitanos não estava apenas o golo que dava uma justíssima vantagem às águias. Estava também a certeza de que, ao contrário dos exemplos que o Benfica teimosamente tem repetido em 2025/26, é possível que histórias com finais infelizes não se repitam ainda que os guiões pareçam, por momentos, idênticos.
Muito suportado pela capacidade de David Neres (titular no reencontro com a ex-equipa) e pela qualidade indiscutível com bola do meio-campo para a frente, o Nápoles cresceu após o golo sofrido, mas quase nunca – tirando duas bolas aéreas – conseguiu causar instabilidade aos encarnados.
Depois de uma primeira parte muitos furos abaixo do nível que, obrigatoriamente, tem uma equipa que ostenta o escudo de campeã italiana, Antonio Conte lançou Politano e Spinazzola no jogo logo para a segunda parte, mas antes que se vissem verdadeiros frutos de uma postura declaradamente mais ofensiva o Benfica dobrou a vantagem. Ríos – melhor jogo com a camisola do Benfica? – apareceu em velocidade na meia-direita para resgatar um passe de Ivanovic e assistiu Leandro Barreiro para o notável desvio certeiro de calcanhar.
O 2-0 deu conforto aos encarnados, que baixaram as linhas e procuraram jogar também com a urgência dos napolitanos em reabrir o jogo. E se os visitantes ainda rondaram o golo que poderia intranquilizar as bancadas nos minutos finais, também o Benfica esteve perto do 3-0 por duas vezes através de Pavlidis, lançado para um último quarto de hora no qual as águias também acrescentaram António Silva ao eixo defensivo.
E a noite terminou com uma vitória que nunca poderia fugir ao conjunto de José Mourinho por tudo o que fez durante todo o jogo, mas também com dois atos solenes: as estreias de José Neto e de Tiago Freitas, dois talentos indiscutíveis do Seixal.
Sete jogos depois, voltou a fazer-se Luz na Champions.

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