Os visuais impressionantes e as músicas inesquecíveis fizeram de Wicked uma das melhores experiências cinematográficas de 2024. A estética e as belas vozes de Cynthia Erivo e Ariana Grande justificaram as quase três horas do filme original.
Isso elevou naturalmente as expectativas para a continuação, que já nasce com a missão de apresentar uma narrativa mais profunda e de definir o destino de todos os caminhos abertos na estrada de tijolos amarelos do primeiro filme. Contudo, Wicked: Parte 2 não alcança esses objectivos — e parte da culpa recai no material de origem.
O novo filme de Jon M. Chu é excessivamente sequencial, sem propor qualquer ideia nova ao espectador. Do início ao fim, o que encontramos é apenas a continuação directa de tudo aquilo que a primeira parte começou — como a deserção de Elphaba (Erivo) e a parceria de Glinda (Grande) com o Mágico (Jeff Goldblum) e Madame Morrible (Michelle Yeoh). Este acaba por ser o primeiro tropeção, consequência do material referente ao segundo acto do musical. Sem um enredo próprio, o filme transforma-se num mero “extra” do anterior, em vez de encontrar uma verdadeira razão para existir.
Tal como na peça, o grupo de O Feiticeiro de Oz é retratado como um conjunto de desajustados e quase não tem tempo de ecrã, à excepção do Homem de Lata, que sempre teve um papel relevante na história. Esta escolha, reforçada ao longo do filme, justifica o facto de nenhum destes personagens ter a sua história desenvolvida, mas também contribui para a sensação de que nada é realmente explorado.
Esta fragilidade, que reproduz o apressado segundo acto do musical, manifesta-se em vários momentos — por exemplo, no tornado que Madame Morrible lança contra a irmã de Elphaba. Apesar de o filme atribuir enorme importância a esse instante, criando uma atmosfera sombria à sua volta, a cena seguinte apresenta uma resolução demasiado teatral e anticlimática — um recurso que pode resultar bem em palco, mas que não combina com o tom de um filme para cinema.
Ainda assim, o filme volta a destacar-se pela sua estética, com figurinos deslumbrantes e cores que se articulam na perfeição, como se de um grande vitral animado se tratasse. Cynthia e Ariana voltam a brilhar nos seus poderosos números musicais, incluindo canções inéditas que não existem na peça. Até Jeff Goldblum e Michelle Yeoh têm os seus momentos musicais, mesmo que a um nível inferior ao das protagonistas — o que nunca lhes foi exigido.
Mesmo com mais de duas horas de duração, Wicked: Parte 2 parece estar sempre a correr. Sem tempo para respirar ou olhar para o lado, a narrativa avança sem pausas rumo ao desfecho das duas protagonistas, deixando o resto para trás. Sem o mesmo brilho do primeiro filme, a continuação encanta pela sua beleza, mas perde força devido ao ritmo irregular e a tensões que não se mantêm até ao fim.
Wicked: Parte 2 é um desfecho apressado, vítima do seu próprio fundamento
