José Saramago, um dos maiores nomes de sempre da literatura lusófona, escreveu um dia que era preciso sair da ilha para ver a ilha. Dizia o autor que «não nos vemos se não saímos de nós».
Mais tarde, Daniel de Sá, referência na literatura açoriana, trouxe uma ideia diferente à já iniciada por Saramago: «sair da ilha é a pior forma de ficar nela».
Não me quero arrogar ao ponto de me equiparar com ambos os autores, cujo respeito que por eles nutro é profundo, peço ao leitor que me permita acrescentar às suas visões um apontamento próprio e pessoal: a ilha nunca sai de nós. E mesmo que possamos deixar a ilha geográfica, terrestre, onde está um ilhéu, onde está um açoriano, estão presentes os Açores. E esta não é a pior forma de ficar na ilha, como se fosse uma prisão. Pelo contrário, é a melhor forma de a transportarmos pelo mundo, de, pelo mar que nos circunda, nos expandirmos e afirmarmos esta grandiosa marca identitária dos Açores onde quer que passemos.
É com este sentimento que deixo Montreal. Estive pouco mais de 48 horas nesta cidade e senti os Açores presentes como se estivesse na ilha. Pelas pessoas que encontrei, pelas conversas que mantive, pelo que vi, ouvi e senti, senti bem os Açores presentes no coração desta comunidade. A Casa dos Açores fez o favor de me receber e deu-me a possibilidade de apresentar o meu mais recente livro – «Rabo de Peixe – Toda a Verdade» – na sua instituição. Instituição que é um pilar da açorianidade nesta cidade, uma verdadeira embaixada da nossa cultura e da nossa identidade.

Vir às comunidades é voltar sempre a casa. E quando chega a hora de partir, o sentimento é o mesmo de quem deixa a sua casa: tristeza e saudade. Sinto que deixo sempre um pedaço de mim por onde passo. E sinto que aqui pertenço também, porque, aqui, assim me sinto recebido. E como um bom filho deve regressar a casa, mantenho convosco o compromisso de, pelo menos uma vez por mês, voltar a este espaço, com artigos mais regulares, para que as palavras continuem a unir-nos.
A unir o Portugal geográfico ao Portugal do mundo, tão bem representado nesta cidade por vós. Até breve.
