A comemoração de datas é importante principalmente a nível coletivo, pois alimenta a coesão e alimenta a chama de cada um para que coletivamente se possa prosseguir para um futuro melhor. As datas importantes não devem idolatrar os personagens – devem sim ser o exemplo de virtudes que coletivamente queremos preservar para as utilizar no esforço coletivo de construção de um futuro próspero a todos os níveis.
O próximo 25 de Novembro com as suas comemorações já começou a levantar dissensões. Já tive a oportunidade de comentar no passado que esta data complementa o 25 de Abril enquanto afirmação do povo português – da altura – na sua afirmação de liberdade quando evidenciou claramente que não pretendia sair de uma sujeição para entrar em outra.
As dores da mudança – e os erros cometidos com a destruição de capital financeiro e humano – impactaram os portugueses que mudaram de regime mas mantiveram até aos dias de hoje as características de subserviência e dependência provenientes do passado. A fraqueza da sociedade portuguesa é ainda bem patente nas inúmeras escolhas feitas, na repetição consecutiva de erros, na eterna dependência do estado, no tudo esperar da providência e nunca apreciar o esforço próprio.
O famoso PRR – Plano de Recuperação e Resiliência – autêntica mão estendida à União Europeia é disso exemplo.
Outros exemplos surgem todas as semanas: greves inusitadas; escolhas que agravam o equilíbrio orçamental com gastos e aumentos salarias e de pensões desproporcionados e desconectados da produção de riqueza; candidatos à presidência que chafurdam em faits divers interessantes para alimentar audiências (ou não…) mas que nada trazem ao país; a eterna luta de afirmação de quem é de esquerda e de direita; debates inconsequentes e aborrecidos sem qualquer substância alimentados por órgãos de comunicação social que vivem uma crise aguda fruto da confusão que fazem entre jornalismo, propaganda política e ativismo.
Chega-se ao inusitado de se dar palco a palhaçadas de um pretenso candidato como se a presidência da república fosse um circo, conspurcando um órgão de soberania nacional.
O sinal é evidente: estamos para lá da racionalidade. Falam as emoções mais profundas de um descontentamento individual que se projeta na sociedade. Mas trata-se de um descontentamento desorientado, rebelde, persistente na ilusão que só pode levar à desilusão e por isso arrasta consigo um peso do passado do qual não se consegue libertar.
É notável ver jovens já nascidos e crescidos neste milénio amarrarem-se incondicionalmente às teorias do passado, falando desse passado como se o tivessem vivido mostrando no entanto profunda ignorância factual do mesmo. É ainda mais notável quando contrastamos com a geração adulta de há cinquenta anos atrás que arrancou o 25 de novembro do grupo das datas comuns para a projetar com um grito de liberdade e de independência que sempre pressupôs responsabilidade. Esta seria a verdadeira lição a tirar para o futuro e não as conversas irritantemente aborrecidas de esquerda versus direita, de fascismo, de estabilidade e de cheques vindos da Europa. Por vezes me questiono se com a atual sociedade portuguesa conseguiríamos fazer algo similar aos Descobrimentos.
E por mais que tente cultivar o otimismo, não vejo as características daqueles bravos – ainda que cheios de enganos e defeitos – mas com garra e espírito para dar passos rumo ao futuro.
Comemorar datas que arrastam para o passado
