Destruir é fácil, Construir é difícil

A renovação das estruturas da sociedade é absolutamente necessária ao progresso e melhoria da mesma face aos desafios que surgem, inclusive aqueles inerentes ao próprio desenvolvimento tecnológico.
A Inteligência Artificial é um exemplo flagrante: uma nova ferramenta que sendo neutra pode ter perspetivas muito interessantes positivas, ou pode ser nefasta pela falta de rédeas éticas e morais. Este princípio estende-se a muitos campos. Por exemplo a gestão, onde as empresas procuram incessantemente melhoria e otimização dos seus recursos para o melhor retorno, destruindo processos produtivos obsoletos que são substituídos por novos processos mais eficientes e eficazes. A agricultura, com o aparecimento da mecanização até aos nossos dias com a incorporação de métodos de controlo e automatização especializados melhorando a produtividade.
A mudança de regras em áreas como o trabalho, onde as novas modalidades de trabalho remoto, a versatilidade nas funções ou a introdução de novas tecnologias introduzem alterações necessárias que a legislação deve quanto antes prever e regular por forma a manter o equilíbrio das relações laborais, a competitividade e consequentemente o desenvolvimento socioeconómico.
É doloroso ver a persistência de conversas de estabilidade em Portugal, que nada querem dizer do que estagnar, resultado que temos assistido desde há algumas décadas.
Mas este processo de destruição, conquanto natural e necessário, tem de ser complementado com a construção de algo novo que renasça sobre os alicerces antigos melhorados para o efeito. Destruir por destruir é fácil.
O problema é construir.
E o problema começa logo pela questão: o que vamos construir? Este interregno entre a destruição e construção é uma terra de ninguém que se abre ao oportunismo desenfreado que adora a falta de limites para implantar os seus tentáculos extrativos.
O caos, a divisão, a confusão, a gritaria, tudo isto são ingredientes que fertilizam o terreno ao oportunismo. As evidências são claras: a insistência em torno de ideias obsoletas; a violência de propósitos; falta de ética e moral em ideias, propostas e ações sem qualquer escrutínio e muito menos responsabilização; proliferação de radicalismos derivado dos abusos e excessos. Voltemos ao ciclo destruição-construção.
Apliquemo-lo à ideia de independência do Quebec.
Sem dúvida nós que para aqui imigrámos ou aqueles que descendem já destes imigrantes concluirão facilmente que a extensão geográfica do Canadá e as características das imigrações ancestrais criaram bolhas populacionais com características distintas.
Imaginemos agora o retalhar do Canadá.
O que seria a construção subsequente? Não se sabe. E o que se sabe são utopias, à semelhança da “utopia” que o Reino Unido agora vive depois do “brexit”.
E porquê?
Porque é fácil destruir, construir é difícil.
Somos atraídos por temas simples e atrativos: preservação da língua, liberdade de tomarmos as nossas decisões, entre outras, tudo ideias que atrai o mais normal dos adolescentes se lhe perguntarmos se quer ter liberdade das “amarras” dos pais.
Mas a realidade eventualmente destrói a ilusão. Foquemos agora nas empresas.
Experimentei há décadas uma restruturação de empresa em Portugal. Fundiram-se equipas com outra empresa, equipas essas com vocações e objetivos diferentes que nada alteraram com a fusão.
Os processos em nada se alteraram. A infraestrutura informática manteve-se, ou seja, a empresa fundiu-se mas havia vários sistemas, processos e equipas a trabalhar em paralelo. A coordenação era praticamente impossível e dependente de humores e simpatias.
A manutenção de colaboradores habituados a trabalhar em tarefas redundantes e que se recusavam a utilizar computadores tornava tudo laborioso e consequentemente ineficiente e ineficaz.
Cheirou-me a destruição e não me enganei: ambas as empresas desapareceram sem deixar rasto.
Os profissionais acabaram por se integrar em outras empresas ou até criaram outras empresas. A própria realidade levou esses indivíduos àquilo que eles deveriam ter criado desde o início, mas que não foram capazes em conjunto na estrutura antiga. A realidade forçou-os, eventualmente.
A renovação é assim um facto da vida. Negá-la é enganar-se. Travá-la é uma utopia. Destruir sem prever reconstruir é uma imprudência que as sociedades e os membros desta deveriam aprender dos múltiplos exemplos da História evitando erros e dissabores desnecessários.

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