Um Jubileu que Não Trouxe Esperança


Assistir atualmente o telejornal ou ler os jornais provoca-nos a sensação de impotência e de desilusão. A realidade social, política e religiosa mudou drasticamente nos últimos anos e os dias que correm têm o condão de plantar o travo amargo e vazio da desilusão. Tudo isso em ano jubilar, onde o júbilo não foi notado e a esperança brilha pela ausência.
No livro “O Sonho de uma Nova Manhã”, Tomás Halik, convida-nos a redescobrir e reavivar a identidade cristã, para que a Igreja volte a ser “sal da terra e fermento para o pão fresco do amanhã”.
Mais do que nunca, a sociedade tem sede e sonha com um Cristianismo que dissipe as trevas do ódio e dos extremismos ideológicos que populam como a erva daninha.
Há anos que vamos observando com muita preocupação, que as nossas comunidades deixaram de ter a teologia e a razão na base da ação pastoral. Faz-se por fazer, faz-se porque sempre se fez e sempre foi assim, faz-se porque é imperioso que se publique nas redes sociais muitas iniciativas, parecendo que se faz alguma coisa, mesmo que inútil. A pastoral sem teologia torna-se um perigo e afasta a pouca massa crítica dos organismos que orientam as paróquias e seus movimentos. O esvaziamento cultural e intelectual, segundo desabafo de colegas e amigos comprometidos com a vida eclesial, é de tal ordem que chega a ser penoso assistir ao declínio da Igreja e à mediocridade dos seus delegados nas cidades e freguesias ou nas vertentes sociais. Este cenário é perfeito para atrair pessoas frustradas com o próprio vazio…
O fenómeno, no entanto, é transversal a todas as áreas da sociedade (política, religião organizações civis) e atinge líderes e subordinados; facilmente notamos o assumir de uma postura arrogante, moralista, pouco exigentes consigo; falam em servir, mas procuram proveitos pessoais e usam a Bíblia para massajar o próprio ego, como moda dos tempos hodiernos.
Na Igreja, em particular, é assim que, a multidão dos egos feridos, transforma o serviço num palco de vaidades e a ideologia do cargo floresce no húmus da pastoral sem teologia e sem a exigência da razoabilidade. Sem que se perceba, as pessoas honestas e inteligentes vão-se ausentando e a massa comunitária vai se tornando cada vez menos crítica.
A opção por gente sem têmpera nunca irá promover a tal “Igreja sal da terra e fermento para pão fresco amanhã”, mas estimula em muitos o hercúleo esforço para que não se confunda Deus com as beatices, a Fé com Religião/Piedade Popular.
A velha dicotomia do católico praticante e católico não praticante já não faz sentido nos dias que correm. Hoje, o comum é encontrar o velho “Cristão Celebrante estéril” (o que se limita a celebrar os sacramentos, participar em procissões, arauto da piedade popular e afins) e o “Cristão Praticante”, aqueles poucos que procuram viver todos os dias os ensinamentos de Jesus, sem se fazer notar, vertebrando as realidades, sem julgamentos, respeitando, semeando e propondo os valores do sempre atual Jesus de Nazaré, propondo e jamais impondo. Já dizia São Tiago na sua carta: “mostra-se a tua fé sem obras, e eu pelas minhas obras te mostrarei a minha fé.”
Que o início deste ano pastoral não promova o ódio ou disputa de cargos, mas seja uma oportunidade de transformação.

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