Mais uma vitória do PSD


As eleições autárquicas de 2025 confirmaram um dado político essencial para a ilha de São Miguel, dado que o Partido Social Democrata conseguiu segurar a Presidência das Câmaras Municipais onde já era poder, resistindo a um contexto político desafiante, tanto a nível regional como local.
Num ambiente de crescente fragmentação partidária e surgimento do Chega e de candidaturas independentes, os sociais-democratas demonstraram ter conseguido manter uma base eleitoral fiel e, em certos casos, mobilizar um eleitorado que valoriza estabilidade e continuidade governativa. O caso mais emblemático da ilha e de todo o arquipélago foi, sem dúvida, o de Ponta Delgada. O atual presidente da Câmara, Pedro do Nascimento Cabral, conseguiu a reeleição, mas fê-lo com uma margem bem mais apertada do que aquela que obteve nas eleições anteriores. A sua tarefa, a partir de agora, será tudo menos fácil. Terá de governar um concelho mais polarizado, onde a oposição ganhou expressão e expectativa entre os eleitores.
A grande surpresa destas eleições foi Sónia Nicolau, candidata independente que alcançou o segundo lugar, ultrapassando o Partido Socialista, que se quedou por um terceiro lugar pouco honroso. Este resultado, além de simbólico, é politicamente relevante. Representa não só o desgaste do PS no concelho como também o surgimento de uma alternativa credível fora do espectro partidário tradicional. Sónia Nicolau tem vindo a construir, de forma persistente e coerente, uma imagem de proximidade e compromisso com as populações de todas as freguesias do concelho. A sua campanha foi marcada por um contacto direto com os cidadãos, sem grandes estruturas partidárias, mas com um discurso claro e centrado nas necessidades reais das pessoas.
A “chicotada” no PS, que já dominou a política em S. Miguel e nos Açores, é o reflexo de um partido em crise de identidade, incapaz de se reinventar ou de apresentar um projeto mobilizador. A ascensão de Sónia Nicolau prova que o eleitorado está disponível para outras opções quando estas são vistas como sérias, comprometidas e enraizadas no território.
Na Ribeira Grande, Jaime Vieira conseguiu ganhar a presidência da Câmara, pois a sua vitória foi conquistada à custa de um discurso de continuidade, mas também de uma certa humildade política e apresentando propostas mais pragmáticas e menos ideológicas para o futuro. A vitória de Jaime Vieira mostra que o eleitorado sente que há trabalho no terreno. Mais do que vitórias retumbantes, estas eleições provaram que o trabalho de proximidade e a autenticidade ainda contam e muito na política local. Na freguesia de Rabo de Peixe, onde até agora Jaime Vieira foi Presidente, verificou-se um fenómeno que muitos antecipavam, mas cuja concretização não deixa de ser politicamente significativa. O eleitorado votou no chamado “filho da terra” para a Câmara Municipal, contudo, no que diz respeito à Junta de Freguesia, o voto foi para a lista do Partido Socialista, ainda que composta, em grande parte, por elementos tradicionalmente ligados ao PSD. Este cenário híbrido levanta questões interessantes sobre o comportamento do eleitorado, pois ao contrário do que se possa pensar, não houve um voto “em bloco”, mas sim um voto dividido, criterioso, que distingue entre o que se pretende para a freguesia e o que se deseja para o concelho como um todo. Este fenómeno, por um lado, pode ser visto como um sinal de maturidade política dos eleitores de Rabo de Peixe. Por outro, revela um certo pragmatismo político, dado que os cidadãos votam em pessoas, em rostos, em projetos locais, muito mais do que em siglas partidárias. A mensagem é clara: quem quiser ganhar eleições no futuro terá de trabalhar no terreno, construir confiança e provar o seu compromisso com as causas locais. Terminadas as eleições, é tempo de governar. Os desafios que se colocam às novas e renovadas equipas autárquicas são imensos, designadamente na habitação, emprego jovem, reabilitação urbana, coesão social, resposta às dependências, etc. Os eleitores deram o seu voto, mas também o seu aviso. Querem trabalho, proximidade, transparência e, acima de tudo, resultados concretos.

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