A história não é pendular, mas é circular e, por isso mesmo, tem um certo sabor a repetição. Assim sendo, podemos afirmar que, para se entender o presente, é necessário conhecer o passado. A atualidade política nacional e internacional tem um odor bafiento que nos tem levado a uma certa sensação de “regresso ao passado” no que ao poder da religião diz respeito.
A religião é, sem dúvida, um grande poder. Ao longo da história, aqueles que tentaram controlar sociedades e povos utilizaram-na como polo agregador da sua agenda ideológica.
Nota-se que alguns tentam, a todo o custo, colar o Cristianismo às suas ideologias e a um certo perfil de candidatos políticos. Procuram manipular o Cristianismo, deturpar a sua essência e usar a sua força agregadora. Usam, portanto, a religião para os seus jogos políticos e interesses eleitoralistas. Não é por acaso que o poder tenha traído Jesus, mas procure usar o seu nome desde o tempo do Imperador Constantino. Não é de admirar que certas ideologias políticas extremistas e certos agentes de poder usem a fé para construir nações e impérios com base na injustiça e no ódio, mesmo sabendo que Cristo é uma desconstrução do poder instalado. Utilizam o medo e a religião para controlar e aprisionar o povo em sistemas cheios de ganância e poder.
Deus e pátria, um slogan com uma musicalidade que atrai, como o canto das sereias. É normal procurar o transcendente e amar a pátria. O que a consciência não pode deixar aceitar é que se declare amor a Deus e se vote em agentes políticos que promovem a crueldade, quando Jesus nos anunciou que são bem-aventurados os misericordiosos. Como cristãos, nunca poderemos aceitar políticas e discursos de ódio quando Jesus nos ensina que “tudo aquilo que fizermos ao mais pequenos dos nossos irmãos, é a Ele mesmo que o fazemos”. Mais, disse-nos igualmente para “amarmos o nosso próximo como a nós mesmos.”
Por tudo isso, entristece-me ver que são tantos os que se dizem “religiosos” a manifestarem a sua admiração por líderes e partidos políticos que projetam a grandeza de uma nação com base no ódio, na crueldade e no atropelo dos direitos humanos. Pedem-nos que usemos o poder do voto por vingança, por despeito, por castigo e para ferir.
As mãos de quem vota e apoia tais ideologias não estão limpas, não podem estar limpas. Não se pode ser discípulo de Jesus e bater palmas à crueldade, ao populismo e à frieza de coração. A justiça social é de inspiração cristã: “o que fizerdes ao mais pequeno dos meus irmãos é a Mim que o fazeis.”
O aumento dos extremismos e nacionalismos irracionais e xenófobos é o testemunho do ódio, nunca da presença de Deus num país. Por isso, votar em tais ideologias e líderes políticos é votar contra os valores cristãos da bondade, da compaixão, da caridade e do respeito pelo outro. Promover o ódio e a divisão para obter votos é um caminho muito perigoso e sem retorno. O cristianismo é o caminho do que é perseguido, nunca o lugar de quem persegue, condena e marginaliza.
É urgente exorcizar o deus da religião controlada por extremistas que destilam ódio e abrir as portas ao Deus de Jesus, que anuncia a tolerância, inspira a justiça social, a solidariedade social, o princípio da equidade e a doutrina social da Igreja. Tratar bem o nosso semelhante vale mais que tudo o resto…
Em tempo de eleições, todos os cristãos são “chamados a fazer mais do que caridade. Somos chamados a desafiar os sistemas e injustiças que fazem com que a caridade seja necessária.”
Usando o Poder da Religião
