Há muitas décadas, Salazar foi colocado perante a realidade imparável do desembarque de tropas inglesas nos Açores, estava-se, então, a caminho do final, na Europa, da Segunda Grande Guerra. Com a natural ponderação calma, Salazar defendeu a solução de ser a Inglaterra a solicitar a utilização dos Açores, invocando a histórica aliança entre Portugal e a Inglaterra, ficando a cargo desta autorizar a entrada das tropas dos Estados Unidos no arquipélago.
A Salazar, que também era o Ministro dos Negócios Estrangeiros, naturalmente, não era possível defender a soberania de Portugal por via de mera invocação da força da lei, porque o que acabaria por triunfar seria sempre a lei da força militar, da Inglaterra ou dos Estados Unidos.
Ora, sendo esta uma condição omnipresente, impunha-se salvaguardar as aparências, que contam sempre nos momentos, ou circunstâncias, da vida, das pessoas ou das nações.
Pelo final, foi o prestígio internacional de Salazar que permitiu que Portugal mantivesse os Açores.
Muitas décadas depois, com Donald Trump na presidência dos Estados Unidos, na primeira vez, esteve em Lisboa Mike Pompeo, então Secretário de Estado dos Unidos.
Sem mais, dando uma verdadeira ordem em público, Pompeo proibiu Portugal de aderir à rede 5G chinesa.
Bom, não houve quem não tivesse percebido o insulto operado pelo antigo diretor da CIA à soberania portuguesa.
Um ato que, estou certo, nunca teria a ousadia de praticar com Salazar à frente do Governo de Portugal.
Num ápice, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, tal como o nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, saíram a terreiro, salientando que Portugal era um Estado soberano, residindo a sua soberania no Povo, representado por cidadãos eleitos para a Assembleia da República e para o Presidente da República.
Procedeu-se, então, a um (dito) estudo profundo, e, sem espanto, lá veio a concluir-se como nos havia exigido Mike Pompeo.
Pois, num dia recente, por aí nasceu mais um conjunto de desaguisados entre Paulo Rangel, Ministro dos Negócios Estrangeiros, e Nuno Melo, Ministro da Defesa Nacional, e tudo isto ao redor dos F 35 que passaram nas Lajes a caminho de Israel. A este dueto, ainda se juntou o Primeiro-Ministro, Luís Montenegro, que veio salientar que Portugal está vinculado a não deixar passar material militar a caminho de Israel, sendo que apenas passaram nas Lajes os tais aviões de guerra F 35.
É caso para que digamos: éu quér’ápláudirr!!!
Formalmente, de facto, Portugal continua a ser um Estado soberano, mas a grande e evidente realidade é que as nossas decisões políticas, hoje bem às claras, se mostram publicamente dependentes das orientações norte-americanas, ou ligadas aos interesses de Israel, ou aos decisores principais da União Europeia.
A nossa atual apregoada soberania, de facto, está longe de ser realmente marcada pelos interesses dos nossos cidadãos.
As decisões, em matéria de política externa, são sempre tomadas após determinar, com segurança, o vento dominante…
DÉCOUVREZ LE PORTUGAL ET LA COMMUNAUTÉ AVEC NOTRE JOURNAL
