Nem vitaminas, nem remédios ou mezinhas: este Clássico à Mourinho saiu engripado

1ª LIGA: FC Porto 0-0 Benfica

Calafrios, tremores, suores… E aquela febre de domingo à noite. Tudo isto são sintomas de um FC Porto-Benfica: o Clássico do povo, o grande duelo entre os dois maiores embaixadores do futebol nacional.
Toda uma expectativa que acabou num redondo 0-0, que só não foi mais penalizador para os dois rivais porque pouco antes Sporting e Sp. Braga empataram em Alvalade, deixando as distâncias na frente inalteradas. Foi o Clássico que marcou o regresso de Mourinho a um lugar onde foi feliz. E onde há um mês era aplaudido. Agora, sobraram apupos. Aliás, foi o Clássico de Mourinho pelo regresso e pelo processo. Taticamente, foi um duelo amarrado, calculista e cauteloso. Um jogo de xadrez, com cada movimento pensado ao detalhe, bem ao jeito do que as equipas do técnico português têm mostrado nos últimos anos. Tal como nos três regressos anteriores, sempre com o Chelsea, Mourinho voltou a não vencer – perdeu em 2004 e 2015, empatou em 2007.


Desta vez, um nulo, como não se via há oito anos entre os dois rivais (desde 1 de dezembro de 2017).Não foi o Clássico de Farioli, porque o FC Porto não teve espaço para ser a equipa vibrante que já demonstrou ser esta época, apesar de ter dominado quase todo o jogo e ter criado as melhores ocasiões de golo. E porque fica de pé (por duas vitórias) o recorde de Villas-Boas, que em 2010/11 arrancou com 11 triunfos seguidos para uma época histórica.

Clássico a ferver nas bancadas e morno no relvado
Mourinho manteve a equipa de Londres, contra o Chelsea, Farioli mudou nove em relação à receção ao Estrela Vermelha, onde rodou a equipa, mas apostou no onze habitual.
Se a primeira parte ferveu nas bancadas, não passou de morna no relvado.
O FC Porto saiu por cima ao intervalo, mas essa diferença não se traduzia em golos. Os dragões rematavam mais (4-1) e tinham vantagem na posse de bola (61%-39%). Aliás, a equipa de Farioli foi a única a dispor de ocasiões de golo na primeira parte: por Gabri Veiga, Pepê, Moura… Mas o placard não mexia no Dragão.
Faltava um golo para abrir o jogo. E também um critério maios largo de Miguel Nogueira, que deu um festival de apito, parecendo que essa era a única forma que tinha de agarrar o clássico com rédea curta.
O Benfica, defensivamente muito eficaz, só não foi uma nulidade ofensiva no nulo do Dragão porque, na meia hora final, Mourinho decidiu deixar de especular com o jogo e arriscar um pouco mais. E quase se deu bem, ainda que involuntariamente: a primeira e única grande oportunidade dos encarnados surgiu num quase autogolo de Kiwior, que aos 63m levou a bola a bater na trave.


Acordar da letargia e… bater no ferro
Acordaria com estrondo o Dragão para os minutos finais. O FC Porto como que tomou um ansiolítico e acordou da letargia. Farioli mexeu na equipa, travando o ímpeto encarnado com Rosario, mas só lançou Rodrigo Mora ao minuto 90.
Quando muitos se questionavam da utilidade da substituição tardia, o jovem prodígio portista quase voltou a ser herói fora de horas, como na passada quinta-feira, contra os sérvios, depois da cavalgada de Deniz Gül: aos 92m, Mora fez tirou as medidas, fez a mira, disparou e acertou em cheio na barra, deixando as bancadas e o banco portista à beira de um ataque de nervos. Mourinho amarrou o Clássico e saiu vivo do Dragão, a quatro pontos do líder. O Porto, como disse Farioli na antevisão, hoje vai chegar a casa cansado de tanto trabalhar, mas de sorriso amarelo, por ter deixado escapar um triunfo que pareceu sempre mais ao seu alcance do que do rival. Ainda assim, não há remédios nem mezinhas que lhes valham: este Clássico saiu engripado.

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