Chainsaw Man: Arco da Reze faz do love bombing uma jornada de amadurecimento

Chainsaw Man: O Filme PROVA a GENIALIDADE de seu autor! | Veredito

Ser ridículo por opção é um privilégio que somente grandes autores podem ter. O ridículo por si só se torna um prazer efêmero e facilmente esquecível quando não é acompanhado de certa densidade. Por esse motivo, para aqueles que fazem da galhofa um recurso para criar reflexões intensas, é dada a oportunidade única de marcar seu nome na história. É assim que o mangaká Tatsuki Fujimoto explora os problemas do capitalismo tardio e das líquidas relações contemporâneas em Chainsaw Man.

A obra-prima de Fujimoto adota uma linguagem por vezes superficial para abordar questões profundas que passam por guerra, fome, abandono e apartheid social, satirizando um sistema que mantém uma maioria da sociedade subjugada por aqueles poucos que vivem na opulência. Chainsaw Man traduz essas preocupações no sentimento de recompensa de Denji ao comer um simples pão com geleia ou tocar em um seio pela primeira vez — afinal, quem não pode ter uma vida independente não é capaz de sonhar em compartilhá-la com ninguém.

Após todos esses conceitos terem sido estabelecidos na excelente primeira temporada do anime, a franquia agora retorna com uma experiência cinematográfica ímpar. Diferentemente de muitos outros filmes baseado em animes, Arco da Reze parece ter sido escrito para um longa-metragem. A adaptação do estúdio Mappa, que tem roteiro de Hiroshi Seko (Dan Da Dan e Jujutsu Kaisen), distribui os conceitos de forma orgânica e coerente, o que torna a experiência de assistir ao filme imersiva até para quem não teve contato com o início da história. Até mesmo no início do longa, quando ele ainda parece estar ganhando forma, as cenas ainda não quebram o ritmo da narrativa, que flui bem do início ao fim.

Assim reencontramos Denji trabalhando sem o seu time convencional, formado por ele, Aki e Power. A separação temporária do trio os coloca em diferentes caminhos; enquanto o homem-motosserra se une a Beam, o infernal do tubarão, seu colega Aki precisa aprender a trabalhar com o preguiçoso demônio Anjo, sua nova dupla. Porém, essa não é a principal mudança na vida do protagonista. Após idolatrar Makima como sua verdadeira musa, ele foi finalmente convidado para um encontro com ela, a quem jurou entregar seu coração. A história reflete mais uma vez sobre o amor cego que ele tem pela personagem, que precisou de somente comida, abrigo e um abraço para conquistar seu amor. 

Entretanto, também é nesse momento que o filme começa a bagunçar os sentimentos do inocente Denji. Após passar uma tarde inteira assistindo a filmes com Makima, ele é surpreendido pela aparição de uma garota bonita, acessível e misteriosa: a Reze do título. Ela despenca na vida do protagonista como um verdadeiro love bombing, dizendo e fazendo tudo o que ele gostaria de receber de uma mulher — e, o mais importante, sempre rindo das bobagens que ele diz e faz. O verniz de garota ideal, porém, serve somente para manipular o jovem rapaz.

A falta de tato social dos personagens continua sendo o motor que faz as piadas da obra funcionarem — e, com a introdução de Reze, isso é ainda mais amplificado. Essa conexão faz Denji começar a criar sentimentos por ela, mas também se dividir entre a dependência emocional por Makima e sua paixão platônica. No meio dessa crise sentimental, o enredo se entrelaça com uma das principais questões da obra: o desejo dos demônios pelo coração do homem-motosserra. Graças à nova personagem, esse objetivo fica ainda mais concreto.

Reze, na verdade, é o demônio da bomba, um dos mais fortes da obra, e foi enviada para roubar o órgão do protagonista. No entanto, o que ela não esperava é que o coração metafórico dele seria dado a ela com extrema facilidade. Isso torna a revelação de sua identidade ainda mais impactante e mostra uma evolução natural na personalidade e conhecimentos de Denji. Ele rapidamente se coloca disposto a enfrentá-la, mesmo estando em um nível de poder claramente inferior. 

Essa cisão entre eles dá início ao terceiro e mais brutal ato do filme, quando a animação do estúdio Mappa encontra seu momento mais desafiador. A duração da batalha e o aglomerado de personagens e elementos visuais torna tudo mais difícil para os animadores, que recorrem à diminuição de quadros em várias cenas ao longo do filme, além de pouparem detalhes nas sequências com movimentos mais agitados. 

Concluindo sua proposta com um saldo positivo, Arco de Reze força seus personagens fixos a um amadurecimento importante, especialmente para o protagonista. Sem uma bússola moral definida, Denji aprende a viver com os problemas que enfrenta, e suas decepções amorosas o tornam, mesmo que a passos lentos, mais atento às malícias do cotidiano. Contar essa história de forma tão magnética é a principal qualidade do filme, especialmente num cenário em que outras franquias japonesas encontram dificuldades ao migrar para o formato do longa-metragem.

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