Com a tomada de posse dos novos órgãos autárquicos, encerra-se um ciclo de discursos e promessas, abrindo-se outro, mais exigente e mais escrutinado: o ciclo da ação. As campanhas eleitorais, por natureza, são terreno fértil para a palavra e nela se plantam esperanças, nela se projetam visões e se alimenta a confiança dos eleitores. Porém, findo o tempo das palavras, chega o momento em que o verbo deve dar lugar ao gesto, e o compromisso se deve transformar na concretização de obras concretas.
Sabemos que nenhuma autarquia, por mais dinâmica que seja, consegue materializar num só ano tudo o que anunciou em tempo de campanha. A governação local é uma maratona e não uma corrida de 100 metros. Contudo, o essencial está em que cada promessa feita não se perca no esquecimento dos dias, nem se dissolva na desculpa fácil das dificuldades. O eleitorado não exige milagres, mas exige coerência, empenho e resultados visíveis. Espera-se, pois, que as promessas não tenham sido apenas um exercício de retórica, mas uma expressão sincera de vontade e de visão para o futuro dos concelhos e suas freguesias.
Mais do que a defesa de siglas partidárias, o que se impõe na gestão autárquica é o compromisso com as pessoas. A política local tem uma natureza muito própria, ou seja, aproxima os eleitos dos cidadãos, torna visível o impacto das decisões e traduz, em pequenas e grandes obras, a diferença entre um mandato estéril e um mandato transformador. É neste nível da administração pública que o sentido de comunidade melhor se revela e onde, por isso mesmo, as divisões partidárias deveriam ser menos relevantes. A lealdade maior de um autarca deve ser para com o seu território, a sua população, o seu património e o seu futuro coletivo.
Num tempo em que o descrédito da política ameaça corroer a confiança cívica, é fundamental que os novos eleitos façam da transparência e do diálogo o eixo da sua governação. Os cidadãos esperam clareza nas decisões, rigor na gestão dos recursos públicos e uma escuta atenta às suas necessidades e aspirações. A proximidade, tão frequentemente invocada, deve traduzir-se em prática, ao estar presente, ao ouvir, ao explicar e ao partilhar os sucessos. Mais do que nunca, impõe-se a construção de consensos alargados. As grandes questões municipais, como o desenvolvimento económico, a sustentabilidade ambiental, o ordenamento do território, a habitação ou os serviços públicos não se resolvem com maiorias estanques nem com a lógica do confronto. Requerem diálogo, cooperação e uma visão de longo prazo, que ultrapasse o horizonte de um mandato e que envolva forças políticas, associações locais, empresas e cidadãos. O sucesso de uma política autárquica mede-se, em última instância, pela qualidade de vida que proporciona à comunidade e pela capacidade de unir, e não de dividir. Em Ponta Delgada, o maior município dos Açores, o novo ciclo político inicia-se sem maioria absoluta, o que exige uma maturidade política acrescida, pelo que tal situação obriga à procura de entendimentos e à construção de pontes entre diferentes sensibilidades. É tempo, pois, de bom senso para se colocar o interesse do concelho acima de qualquer cálculo de fação. Ponta Delgada precisa de estabilidade, de rumo e de visão. A cidade e todas as suas freguesias esperam que a Câmara encontre o equilíbrio necessário para governar com serenidade, garantindo que a diversidade política se transforme em oportunidade de diálogo e consequente governabilidade da joia da coroa.
Os próximos anos serão decisivos para afirmar uma nova cultura de governação local, mais participativa, mais responsável, mais ambiciosa. Que cada eleito se lembre de que o poder que agora detém é apenas emprestado, fruto da confiança dos que nele votaram. E que essa confiança, tão difícil de conquistar e tão fácil de perder, se renova diariamente através do trabalho, da integridade e da dedicação ao bem comum.
Chegou, pois, o tempo das ações. As palavras cumpriram o seu papel, agora é o futuro que espera por quem prometeu construí-lo.
O Tempo das Ações
