Chez Nous

65 anos de “A Voz de Portugal”: Uma Jornada de Compromisso
com a Comunidade Portuguesa em Montreal

Em 25 de abril de 1961, um grupo de visionários deu vida a uma publicação que, ao longo de mais de seis décadas, se tornaria um pilar da comunidade portuguesa em Montreal. O jornal “A Voz de Portugal” surgiu não apenas como um veículo de informação, mas como uma verdadeira extensão da alma e dos anseios da nossa gente. A primeira edição, inclusive, não foi impressa em Montreal. Naquela época, a cidade não dispunha de condições para esse trabalho, então a composição tipográfica e impressão aconteceram em Lisboa, nas Escolas Profissionais Salesianas.

Nos primeiros anos, o jornal teve uma linha editorial de direita, embora a história ainda questione qual a razão de sua postura política, dada a complexidade dos tempos que se viviam, com lutas internas pelo poder tanto em Portugal como no exílio. Com o tempo, o jornal evoluiu, mudando a sua produção para Newark, EUA, até que em 1962 se estabeleceu em Montreal, com a ajuda de uma tipografia local, onde o luso-canadiano José das Neves Rodrigues se tornou um pilar da produção, não obstante sua posição política contrária ao regime que o jornal inicialmente apoiava. Essa colaboração, que poderia parecer uma contradição, foi, na verdade, um reflexo do espírito democrático e inclusivo que sempre permeou a história de “A Voz de Portugal”.

O Compromisso com a Verdade e a Comunidade

Durante seus primeiros anos, o jornal contou com três diretores em menos de quatro anos, refletindo os tempos turbulentos e a busca por uma linha editorial mais coesa. Artur Ribeiro, Luís Filipe Costa e Dúlio Barreto Rosette, entre 1961 e 1964, colocaram as bases de um jornal que, com a chegada de Armando Barqueiro, em 1965, tomaria um rumo mais decidido e centrado na realidade política da comunidade portuguesa em Montreal. Sob sua direção, o jornal se distanciou da política da « Folhinha do Consulado », tornando-se mais equilibrado e representativo da maioria da comunidade.

O compromisso de Barqueiro com os princípios da verdade e da independência política era claro, e mesmo durante períodos como a Revolução dos Cravos, em 1974, quando o jornal se viu entre a fragilidade da revolução e a tensão do momento, “A Voz de Portugal” manteve-se fiel aos seus valores. Durante esse período, o jornal atravessou dificuldades técnicas, dependendo de recursos limitados e da ajuda de colaboradores como José Manuel Freitas, que garantiu que as notícias chegassem de Lisboa a Montreal, em tempos onde a comunicação ainda era um desafio.

Por mais de quatro décadas, « A Voz de Portugal » representou a luta pela verdade e a dignidade da comunidade portuguesa. Em todos esses anos, o jornal manteve uma postura ética e transparente, sempre buscando ser um reflexo fiel dos anseios da comunidade, com respeito pelos princípios jornalísticos e pelas relações com instituições e pessoas.

Transformação e Renovação: O Despertar de uma Nova Era

A grande virada aconteceu em 1979, quando Carlos de Jesus e seus associados fundaram a Typogal, uma nova empresa que revitalizou o jornal, trazendo-lhe não só novos processos de produção, mas também uma visão moderna e ousada. Foi a partir desse momento que “A Voz de Portugal” se transformou numa publicação totalmente original, sem recorrer a recortes de outras fontes. A equipe cresceu com a chegada de novos talentos, como Valdalino Ferreira, cujas contribuições tanto financeiras quanto pessoais garantiram a continuidade e o fortalecimento do jornal durante as décadas seguintes.

O jornal passou a ser uma força ainda mais sólida, com os colaboradores se tornando cada vez mais essenciais para seu funcionamento. A dedicação de pessoas como Valdalino Ferreira foi vital para que, ao longo dos anos, “A Voz de Portugal” não apenas sobrevivesse, mas prosperasse, apesar das dificuldades. A sua importância para a comunidade portuguesa de Montreal foi, e continua a ser, inestimável.

Novos Tempos, Novas Ideias

Em 2004, uma nova fase de renovação foi iniciada com a venda do jornal para Eduíno Martins. Sob a sua liderança, e com a ajuda da nova geração de jornalistas, como Sylvio Martins e Kevin Martins, o jornal se modernizou, adaptando-se às novas exigências do mercado e aos tempos que se seguiam. O visual do jornal foi aprimorado e a linha editorial, mais focada nas necessidades da comunidade portuguesa no século XXI, refletiu as mudanças sociais e culturais. Em 2005, a morte de Armando Barqueiro marcou o fim de uma era, mas também trouxe a continuidade com a liderança de António Vallacorba, um nome conhecido da nossa comunidade, que assumiu a direção em 2006.

A Revolução Digital: A Voz de Portugal na Era da Internet

A chegada da internet trouxe um novo desafio, mas também uma nova oportunidade. O jornal, que já se adaptara aos tempos, agora precisava se reinventar no universo digital. Em 1996, « A Voz de Portugal » lançou o seu primeiro site, algo que parecia ousado e inovador para a época. Hoje, podemos orgulhosamente dizer que o jornal evoluiu, e a terceira geração de seu portal digital é uma plataforma dinâmica e interativa, que não só traz as últimas notícias, mas também serve como um ponto de encontro virtual para toda a comunidade portuguesa de Montreal.

A internet, longe de diminuir o impacto do jornal, fez com que ele chegasse a mais pessoas e ganhasse nova relevância no mundo moderno.

A pergunta que se fez há 10 anos, “A internet nos dará um melhor jornal?”, teve uma resposta clara: sim!

O jornal ganhou mais agilidade, mais alcance e mais possibilidades de comunicação.

Solidariedade: O Pilar da Nossa Existência

O que sempre nos manteve juntos, por mais desafios que enfrentássemos, foi a solidariedade. O apoio dos nossos leitores, colaboradores e parceiros comerciais tem sido vital para que, ao longo de 65 anos, “A Voz de Portugal” tenha se mantido relevante, fiel à sua missão e um ponto de referência para a nossa comunidade. O esforço conjunto de todos, desde aqueles que escrevem até aqueles que colaboram de outras formas, mantém o espírito de solidariedade e união que sempre foi a alma do nosso jornal.

Este jornal não é apenas uma publicação. “A Voz de Portugal” é uma expressão do que somos como comunidade: resilientes, unidos e apaixonados pela nossa cultura, nossa história e o nosso futuro. E, enquanto houver alguém para contar nossas histórias e lutar por nossa identidade, a nossa voz continuará a ecoar, firme e clara, por muitos anos mais.