O espesso nevoeiro que paira no céu não engana: a fumaça difundida pelos incêndios florestais nas pradarias está a afetar a qualidade do ar no sul do Quebec. E episódios como este, que se tornarão cada vez mais frequentes, podem ter efeitos a longo prazo na saúde pública, alerta uma médica.
Na manhã de sábado, Montreal tinha a pior qualidade de ar do mundo, muito à frente das cidades de Jacarta, na Indonésia, e Kinshasa, na República Democrática do Congo, com nada menos que 112,1 microgramas de partículas finas por metro cúbico. Considera-se que a qualidade do ar é má a partir dos 35 microgramas. No início da tarde, a cidade recuou para o segundo lugar no ranking, com 90,4 microgramas de partículas finas por metro cúbico.
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O Ambiente Canadá emitiu um aviso pela manhã recomendando aos residentes do sul do Quebec que limitassem as saídas ao exterior. O aviso abrange particularmente a grande região de Montreal, bem como as regiões de Estrie, Lanaudière, Mauricie e Centre-du-Québec.
“Notámos que a concentração de poluentes foi muito elevada a partir de [sexta-feira] à noite”, explica Amélie Bertrand, meteorologista do Ambiente Canadá. Sem vento para varrer as partículas finas, o nevoeiro permanecerá no ar até sábado à noite.
A qualidade do ar voltará a ser aceitável na noite de sábado para domingo, “mas não se exclui a possibilidade de outros episódios menos intensos ao longo da semana”, acrescenta Amélie Bertrand.
Avisos de calor também estão em vigor no sul do Quebec para os dias de domingo, segunda-feira e terça-feira, particularmente em Montreal, Laval, em parte dos Laurentides e na Montérégie.
Um apelo à ação climática
As pessoas saudáveis têm menor risco de sofrer as consequências de um dia de nevoeiro. “Mas o que me preocupa particularmente é a exposição acumulada e repetida a episódios de má qualidade do ar devido à inação climática”, destaca a Dra. Claudel Pétrin-Desrosiers, especialista nos efeitos do ambiente sobre a saúde.
Estudos já mostram ligações entre a exposição ao nevoeiro e várias questões de saúde a longo prazo, como demência precoce, problemas cognitivos e, nas crianças, certos tipos de câncer.
“Todas as previsões científicas nos dizem que o nevoeiro e o calor vão acelerar tanto em intensidade como em frequência nas próximas décadas, então temos de colocar as questões reais aos nossos decisores”, sublinha a Dra. Pétrin-Desrosiers.
A qualidade do ar voltará a ser aceitável na noite de sábado para domingo, sendo possíveis outros episódios menos intensos ao longo da semana, avisa o Ambiente Canadá.
A médica destaca que os episódios de má qualidade do ar já estão a agravar problemas de saúde, nomeadamente acidentes vasculares cerebrais (AVCs), enfartes do miocárdio e doenças pulmonares como a asma.
Alguns estudos também mostram uma correlação entre as ondas de calor e as tentativas de suicídio, explica. Estes episódios têm também um impacto no tecido social: levariam também a um aumento da criminalidade, da violência doméstica e da violência de gangues.
“Não sabemos o que será o efeito de viver isto a longo prazo, todos os verões, vários dias por ano”, alerta Claudel Pétrin-Desrosiers.
Calor sufocante
O calor manter-se-á durante todo o fim de semana, com temperaturas superiores a 30 °C e um índice de humidade de 40. As noites serão “particularmente desconfortáveis”, com temperaturas mínimas superiores a 20 °C, especifica o Ambiente Canadá.
O calor extremo pode ter efeitos na saúde. O Ambiente Canadá sugere ainda que se tomem notícias das pessoas que vivem sozinhas e dos idosos durante períodos de calor extremo.
É preciso estar atento, nomeadamente, aos primeiros sinais de exaustão devido ao calor, bem como dores de cabeça e tonturas para evitar um golpe de calor. “Em caso de calor extremo e má qualidade do ar, a prioridade é manter-se fresco”, lembra o Ambiente Canadá.