A Ilha de S. Miguel em Festa


Junho é, por excelência, o mês das celebrações dos santos populares. Em cada canto dos Açores, os arraiais enchem-se de cor, música e cheiro a sardinhada. Em S. Miguel, estas festividades ganham uma dimensão especial. A ilha vibra com a energia dos santos populares, em festas que misturam o melhor da tradição com a modernidade de um cartaz cultural cada vez mais ambicioso e dispendioso, em que as autarquias investem milhares na sua realização.
Na Lagoa, Santo António dá o mote. Em Vila Franca do Campo, é S. João quem manda. E na Ribeira Grande, S. Pedro é o senhor da festa. Cada uma das localidades orgulha-se das suas marchas populares, verdadeiros desfiles de identidade e criatividade, onde se nota o empenho de meses de preparação. Crianças, jovens e adultos vestem-se a rigor, cantam e dançam pelas ruas, perante o olhar enternecido de residentes e muitos turistas.
Mas as festas micaelenses já não se resumem às marchas e arraiais. O cartaz musical tem vindo a crescer, trazendo à ilha artistas nacionais e internacionais que, a peso de ouro, garantem noites de animação para todos os gostos. É uma aposta arrojada que transforma cidades, vilas e freguesias recorrentemente tranquilas em verdadeiros palcos efervescentes de divertimento, cativando não só a população local como também visitantes curiosos.
Há quem critique os custos envolvidos e é legítimo discutir onde e como se investe o dinheiro público. Mas a verdade é que estas festas são muito mais do que entretenimento, elas constituem um motor da economia local, de coesão comunitária e de orgulho dos residentes. O comércio local ganha, o turismo ganha e, sobretudo, a alma micaelense sai reforçada.
Por isso, celebremos os santos populares, pois as ruas se encham de luz, que as marchas dancem com garra e que a música ecoe pelas noites quentes. Porque em S. Miguel, os santos populares são mais do que tradição, são uma afirmação viva de identidade e alegria.
No entanto, na Ribeira Grande, este momento serve celebrar a elevação a cidade e assim prestar tributo a instituições e cidadãos que, de forma discreta ou visível, têm contribuído para o crescimento e a dignidade da antiga vila-cidade. São gestos de reconhecimento justos e necessários, que valorizam o esforço coletivo de quem constrói o presente com respeito pelo passado.
Mas a celebração deste ano carrega um simbolismo adicional, pois será a última organizada pela atual equipa da autarquia. O ciclo político aproxima-se do fim, e os sinais são claros, dado que surgem novas vozes, possíveis candidaturas ganham forma e o ambiente pré-eleitoral começa, discretamente, a marcar presença.
Este contexto confere uma camada extra às comemorações. Para uns, é tempo de balanço e para outros, de promessas. E para os cidadãos, é tempo de atenção. Porque mais do que aplausos e discursos festivos, é fundamental avaliar o caminho percorrido e o rumo que se deseja para o futuro da Ribeira Grande.
A festa, por si só, não resolve os desafios estruturais do concelho. Mas tem um valor simbólico e agregador que não deve ser subestimado. É neste espaço de celebração pública que se manifesta o orgulho local, a participação cívica e a vontade de continuar a construir uma cidade mais justa, mais dinâmica e mais próxima das pessoas.
Que esta seja, pois, uma celebração com memória, mas também com visão. Que se reconheçam os méritos de quem serviu, sem esquecer a exigência de renovar, melhorar e inovar. Porque Ribeira Grande merece mais do que festa.

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