Ninguém duvida hoje de que, afinal, o fim do comunismo soviético acabou por colocar o mundo numa situação muito pior do que a existente no seu tempo. Tal como se dá com o leitor, também eu nunca havia ouvido falar de Vladimir Putin, ao tempo em que Yeltsin era o Presidente da Rússia. Só tomei conhecimento da sua existência quando foi nomeado Primeiro-Ministro da nova Rússia pós-comunista.
Sempre defendi, naturalmente, que a OTAN devia ter tido o seu fim logo que o comunismo soviético, que foi a sua razão de ser, teve lugar. Em boa medida, se acaso se pudesse ter em conta a palavra dos políticos norte-americanos, a garantia honrosa de James Baker III a Gorbachev e Shevarnadze, de que os Estados saídos do acabado de extinguir Pacto de Varsóvia não passariam a fazer parte da OTAN, seria um primeiro passo no sentido de, em favor da paz, se ter posto um fim na OTAN. Infelizmente, a falta de palavra dos políticos norte-americanos acabou por criar as condições que estão hoje a manter a guerra na Ucrânia.
Esta minha opinião, que sempre tomei como lógica e evidente, foi há dias exposta por Jeffrey Sachs, economista norte-americano reconhecido e que é hoje Diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Columbia: em primeiro lugar, a OTAN deveria ter deixado de existir em 1990, quando o Presidente Gorbachev encerrou o Pacto de Varsóvia, com os Estados ocidentais a prosseguirem por este caminho, o que teria determinado que se não tivesse de estar a viver a atual perigosa situação.
Hoje, desde que se disponha de real liberdade para pensar e para exprimir esse pensamento, terá de reconhecer-se que a OTAN se tornou num mecanismo destinado a expandir o poder norte-americano, sempre consigo arrastando os fracos e politicamente dependentes políticos europeus. Ora, esta situação, que se vem materializando num movimento da OTAN para o leste desde 1990, não tem justificação, sendo completamente contrário à tal garantia (supostamente) honrosa de James Baker III.
Pleno de oportunidade, Jeffrey Sachs salientou que “a Europa não vem mostrando a capacidade de criar uma estrutura de segurança independente, a fim de substituir a perigosa OTAN”. Mas foi, ainda, bem mais certeiro, ao referir este mais que óbvio: a Europa, como se sabe, simplesmente não existe, com um número razoável de Estados lutando entre si. E logo concluiu: a Europa vem lutando contra si mesma há mil anos!
Por fim, uma nota, que penso merecer a atenção de cada um de nós: se os Estados Unidos desclassificarem as promessas de Bill Clinton a Vladimir Putin sobre a OTAN, tal poderá vir a ser um problema, porque a Rússia quis ingressar na OTAN, mas Bill Clinton não acolheu a ideia. Como se percebe, a OTAN, sendo uma estrutura sob liderança dos Estados Unidos, não poderia mostrar-se aberta à entrada da Federação Russa para o seu seio.
É que a OTAN, objetivamente, é, hoje, uma força de ameaça militar dos Estados Unidos contra a Federação Russa, porventura, contra outros Estados do mundo. Vivemos um tempo de vale-tudo.
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