A chefe das operações será a contabilista France-Élaine Duranceau – «a quem não vamos chamar Cruella», arriscou o primeiro-ministro François Legault no seu discurso de quarta-feira. Ela ficará responsável pelo Conselho do Tesouro, numa grande promoção resultante da remodelação governamental.
«O governo fez muitas mudanças dentro do sistema atual», mas este sistema «atingiu os seus limites». Tornou-se uma «camisa de forças» da qual é preciso «libertar-se», defendeu Legault. Avisou os seus 29 ministros: será preciso «arregaçar as mangas» e fazer uma grande «limpeza».
No discurso proferido na ágora do parlamento, Legault apresentou «as grandes linhas» do seu «novo plano» para recuperar o apoio popular.
«Pessoalmente, tenho mais vontade do que nunca de lutar. Com a idade que tenho, já não estou em concursos de popularidade. O que me motiva é o amor pelo povo do Quebeque», afirmou.
Sobre a educação, não anunciou novas medidas, limitando-se a recordar investimentos passados. Quanto à saúde, abordou apenas a questão da remuneração dos médicos, garantindo que não recuará na revisão das tabelas.
No centro do plano está a eficácia do Estado. «Tudo demora, tudo é complicado, tudo é cada vez mais caro», criticou o primeiro-ministro.
«É preciso nada menos do que sair do sistema atual, desta camisa de forças. É preciso cortar profundamente na burocracia. Precisamos de um tratamento de choque. Cada ministério terá de fazer a sua limpeza», disse, sublinhando que a mudança começará pelo Ambiente, onde Bernard Drainville terá de rever regras e reduzir prazos de aprovação.
Legault defendeu também «o coragem de modernizar o regime sindical». O ministro Jean Boulet, que se mantém na pasta do Trabalho, já trabalha em medidas para restringir a utilização das quotas pelos sindicatos e poderá rever as regras relativas a votos de greve.
«A lei e a ordem»
O primeiro-ministro afirmou querer impor «a lei e a ordem» para combater com firmeza flagelos como o crime organizado, gangues de rua, exploração de menores, tráfico de drogas duras, crimes sexuais contra mulheres e cibercriminalidade. A prevenção será importante, mas também a repressão policial e judicial.
O ex-polícia de Montreal, Ian Lafrenière, sobe de estatuto e assume a pasta da Segurança Pública, mantendo as Relações com as Primeiras Nações e os Inuit. Terá de apresentar «rapidamente medidas para melhorar a segurança dos quebequenses».
Após o dossiê Northvolt, Legault prometeu uma «nova visão económica» para responder aos «profundos abalos» provocados, entre outros fatores, pela política tarifária do presidente norte-americano, Donald Trump.
Mesmo com o governo em dificuldade financeira e a necessidade de recuperar o equilíbrio orçamental, Legault admite procurar formas de aliviar a carteira dos cidadãos. Uma das hipóteses em estudo é reduzir o preço dos combustíveis.
Identidade e imigração
A identidade cultural é outro eixo da sua ação. O Quebeque está «submerso, e a palavra não é demasiado forte», por uma «explosão da imigração», afirmou o primeiro-ministro. O governo «não exclui nenhum meio para reduzir a pressão sobre os serviços públicos e sobre a nossa identidade».
Já é sabido que pretende reduzir o conjunto de serviços oferecidos aos requerentes de asilo. Legault mantém também a pressão sobre Ottawa para reduzir em 200 mil o número de imigrantes temporários em Montreal e Laval.
O ministro Jean-François Roberge prepara uma nova lei da laicidade, que incluirá a proibição de rezas em público e o uso de símbolos religiosos em creches.
Cinco novos ministros
A remodelação não foi nem tão profunda quanto a anunciada no final de junho, nem tão limitada quanto parecia inicialmente.
O Conselho de Ministros continua a ter 29 membros: 17 homens e 12 mulheres, afastando-se um pouco da paridade que antes quase atingira.
Cinco deputados entram no governo, três deles à frente de pastas próprias: Donald Martel (Agricultura), Amélie Dionne (Turismo) e Jean-François Simard (Recursos Naturais e Florestas).
Onze ministros mantêm-se nos mesmos cargos; 13 mudam de pasta.
Sonia LeBel deixa o Tesouro e assume a Educação, num movimento importante da remodelação. Conhecida pelo seu papel na comissão Charbonneau, terá de restabelecer a confiança com o setor escolar.
Geneviève Guilbault passa a liderar as Autarquias Locais, mas perde o cargo de vice-primeira-ministra, que não foi atribuído a ninguém – facto inédito. Jonatan Julien passa a ministro dos Transportes.
Pelo contrário, Maïté Blanchette Vézina (Rimouski) sai do governo após forte contestação ao seu regime florestal. O veterano François Bonnardel também foi afastado. André Lamontagne e Suzanne Roy deixam o governo porque não se recandidatarão em 2026. Andrée Laforest preferiu candidatar-se à câmara de Saguenay e renunciou ao cargo ministerial que lhe estava reservado.
Entre os que permanecem estão, entre outros, Eric Girard (Finanças), Christine Fréchette (Economia e Energia), Christian Dubé (Saúde), Lionel Carmant (Serviços Sociais), Jean Boulet (Trabalho), Jean-François Roberge (Imigração, Língua Francesa, Laicidade) e Mathieu Lacombe (Cultura). Mario Laframboise deixa de ser chefe da disciplina parlamentar, substituído por François Jacques, que por sua vez cede o posto de presidente do grupo parlamentar a Yves Montigny, eleito em 2022. Estes cargos não pertencem ao conselho de ministros, mas participam nas reuniões governamentais.