O estado atual da política é alimentado por diversos fatores que culminam num espetáculo hipócrita que as massas aplaudem de forma cega, movidas também por influenciadores dos media sociais que espalham, para além da mentira, os desequilíbrios torpes que lhes alimentam o espírito.
A cada dia que passa, a cada evento que surge, pergunto-me: quem de bom senso e com competência se arriscaria a entrar na política?
Provavelmente ninguém de valor.
A este vazio – na natureza como nas instituições da sociedade humana – este vazio tem que ser preenchido com algo.
Esse algo é normalmente o oposto ao elemento previsto para esse lugar.
Em espaços onde retiramos a verdade, surgirá a mentira; em espaços onde retiramos a educação, surgirá a ignorância; em espaços onde retiramos o bom senso, surgirá a insensatez; em espaços onde retiramos o esforço, surgirá a indolência; em espaços onde retiramos a paz, surgirá a guerra.
É fácil perceber se fizermos uma analogia simples com um helicóptero. Este aparelho vence a força da gravidade pelo esforço dos seus motores atuando as respetivas hélices.
Se o esforço dos motores é inexistente, o helicóptero não sai do chão, passando a ser um objeto como qualquer outro objeto inanimado à superfície do planeta. Se o esforço do helicóptero é infinitamente superior à gravidade este voaria pelo espaço (bem sei que não é realizável, mas sigam-me para efeito da analogia).
Em ambos os casos o helicóptero não cumpriria a sua função, que é de transportar pessoas e bens do ponto A para o ponto B na superfície do planeta.
O equilíbrio entre as duas forças – gravidade e motores – permite a condução do helicóptero para a função que lhe foi destinada.
Ambas são uma verdade, mas nenhuma delas é absoluta. Transpondo este princípio para a política, verificamos um excessivo apego às conceções que cada movimento traz consigo como se fossem verdades únicas e absolutas.
Afirmações como “todos os migrantes são criminosos” é uma falsidade. Mas também é uma falsidade que todo o país pode viver, salvo circunstâncias muito excecionais, indefinidamente de portas abertas a toda e qualquer entrada.
Da mesma forma em muitos conflitos há responsabilidade de parte a parte, ainda que uma possa ter agido de forma ilegítima e mereça uma sobrecarga de responsabilidade pelas consequências dos seus atos insanos.
Qualquer um no momento de calma entende perfeitamente isto. Mas aplicamos isso na sociedade e consequentemente de forma coletiva? Cada vez menos, é a minha opinião.
O desaire que vemos desenrolar à nossa frente, que as nossas consciências – se as perscrutarmos – podem dar julgamento, revelam a realidade dos nossos erros.
O desarranjo das exigências ilegítimas e inexequíveis afastam o bom senso, atraindo insensatez. As falsas verdades absolutas, dogmas sobre todas as formas, afastam a educação e a procura de conhecimento atraindo em contrapartida a ignorância que se consolida de forma assustadora. Aos comunicadores vazios – vazios de conhecimento e de humanidade – entregamos-lhes a transmissão dos nossos valores, na vã esperança de que transportando água limpa em copo sujo, que esta chegue ao seu destino impoluta.
Qual o resultado?
Entregamos as rédeas dos nossos destinos não aos mais capazes mas aos mais desequilibrados, pois procuramos o desequilíbrio; entregamos a condução das nossas instituições aos mais ébrios e extrovertidos, confundindo competência com barulho e jactância.
Pensem bem: no vosso clube desportivo de predileção, entregariam os destinos da equipa ao treinador mais capaz, ou àquele que é mais fanfarrão, oportunista, mentiroso e desrespeitoso?
Se a resposta é o mais capaz, porque então entregamos as rédeas da sociedade aos mais loucos?
DÉCOUVREZ LE PORTUGAL ET LA COMMUNAUTÉ AVEC NOTRE JOURNAL