O Ocidente enfrenta uma das crises mais profundas, principalmente por ser uma crise interna que corrói os fundamentos daquilo que chamamos de Ocidente.
Esta entidade supranacional, abstrata mas real nas suas implicações na estruturação das sociedades da Europa ocidental e América do Norte, baseia-se em princípios que sustentaram o desenvolvimento que estas regiões apresentaram nomeadamente depois da segunda grande guerra. Como todos as construções humanas, padeceu de erros cometidos e as consequências apresentam-se de forma inequívoca.
Os erros fazem parte da aprendizagem humana. Mas também faz parte a correção dos mesmos.
No entanto, um dos erros de mais catastróficas consequências, e que provavelmente será a pedra tumular sobre o Ocidente, é o individualismo. A segunda grande guerra ensinou e provou que a união de propósitos em torno de princípios de liberdade com respeito pelo próximo e pela lei, estendendo esse respeito às instituições e às regras de boa convivência na sociedade, desde os campos económico ao político, são percursores do desenvolvimento.
Mas as gerações vão passando. Vivendo sobre as construções do passado, usufruindo das benesses herdadas do sacrifício das gerações anteriores entretanto desaparecidas, as sociedades ocidentais perderam o norte orientador, afogam-se no individualismo selvagem, o que as aproxima mais do animal selvagem do que da raça humana.
O vazio de propósito é tão evidente quanto evidente é o ativismo extravagante na defesa de causas absurdas, nos comportamentos aberrantes e abusivos que desafiam até a denominação de racionalidade atribuída ao ser humano.
A perda de norte permite o deslumbramento com as mentiras repetidas diariamente – de onde provirá a afirmação de que uma mentira repetida consistentemente se torna uma verdade?
Não admira as fugas à realidade, o chafurdar no mar de mentiras onde se prefere as afirmações de um qualquer delinquente aos factos espelhados para quem quiser ver.
O Ocidente, que se baseou na racionalidade e onde, derivado da influência religiosa e das várias correntes filosóficas desde a clássica à mais moderna, tentou conciliar o princípio moral à racionalidade, deu lugar à orientação do conhecimento para uma melhoria assinalável da vida de todos. A saúde é o exemplo perfeito disso. Mas fazemos agora marcha atrás.
Da racionalidade para a qual caminhámos, retrocedemos para um campo de credulidade medieval onde acreditamos em alguns mas não em outros; onde aceitamos “verdades” de uns sem nos questionarmos. Da minha observação – e aqui perdoem-me se estarei em erro e apelo também à vossa análise – do contacto com vários indivíduos de várias origens cheguei à conclusão que o excesso de informação, a velocidade desta e o choque moral perturbam a maior parte dos seres humanos. Encerrados neste redemoinho, eles se colocam numa posição de sujeição a qualquer “orientador” que pense por eles, que os oriente e que acima de tudo assuma o papel de protetor.
O conforto material amolece os espíritos e a indolência daqui induzida acaba por escancarar as portas a estes oportunistas da virtude e das certezas sobre tudo e nada, pseudo-sábios de possibilidades ilimitadas, que se for preciso torcem a realidade a seu bel-prazer com os quais os seus seguidores se alimentam languidamente.
O Ocidente encontra-se assim no ocaso. Será o seu fim? Retornaremos nós a um mundo de mandos e desmandos violentos à mercê do autoritarismo que é cada vez mais defendido? A Humanidade segue ciclos, ciclos estes não impostos necessariamente, mas acima de tudo consequentes com os erros que a Humanidade teima não aprender. Com isto caíram impérios que estão hoje reduzidos a pó, outros quase nada sabemos deles, como que se a História por si mesma fizesse uma limpeza tão necessária quanto urgente se faz nos dias de hoje.
DÉCOUVREZ LE PORTUGAL ET LA COMMUNAUTÉ AVEC NOTRE JOURNAL