PRIVATIZAÇÕES: A IDEOLOGIA PRIVATIZADORA ESTÁ A DESTRUIR O BEM ESTAR

Na noite de ontem, na RTP 3, foi entrevistado por João Adelino Faria o antigo Ministro da Saúde, António Correia de Campos. Uma entrevista com pouco sumo, mas com esse pouco repleto de conteúdo. Razão para sugerir ao leitor o visionamento desta entrevista. Uma das conclusões ali referidas por Correia de Campos foi a da hipercomplexidade de que se reveste o setor da Saúde, que naturalmente requer um governante dominador das realidades que sempre nele estão presentes. E também que raramente o Primeiro-Ministro pode tratar o pormenor das tarefas inerentes ao setor.
Todavia, a conclusão mais importante do antigo Ministro da Saúde foi a chamada de atenção para a ideia de que privatizar tudo a esmo terá sempre de saldar-se no que já se está a ver. E também que nenhuma classe médica algum dia se contentará, e por aí colaborará com vontade, se paga com salários muito baixos.
Nunca duvidei desta realidade, tornando-se-me evidente que a privatização do setor da Saúde teria sempre de nortear-se pelo lucro a ser conseguido através desse tipo de ação médica. Se se conseguir o lucro privado, bom, lá estarão os utentes, mas só se puderem pagar. De um modo simples: criar-se-á, deste modo, um serviço de saúde só para uma minoria. Ora, num dia destes, logo após almoçar com os meus neto e neta, passei por certa livraria próxima, onde adquiri alguns livros recentes, um deles GOUVEIA E MELO – Uma biografia, da autoria de Vítor Matos, editado por Ideias de Ler. Um livro muitíssimo interessante, por onde vim a saber que Ana Paula Martins, Ministra da Saúde, é casada com um Vice-Almirante, de seu nome Silvestre Correia. A obra, porém, vale imensamente mais do que este dado personalizado.
Acontece que fui encontrar na página 189 desta obra a seguinte passagem: Havia uma crise aguda na manutenção dos equipamentos, a que o Arsenal do Alfeite não conseguia dar resposta: desde a abertura do estaleiro aos privados, em 2009, que a degradação do ritmo das reparações e do serviço era contínua. Uma realidade que se compagina, de um modo fortíssimo, com o que já se sabe do que esteve a montante da tragédia do Elevador da Glória.
Não custa perceber que a iniciativa privada nunca se pode compaginar com a prestação de um serviço que seja essencial ao funcionamento da comunidade nacional. Ela pressupõe, naturalmente, a procura do lucro, de preferência com baixos custos salariais, por aqui criando o desinteresse e a falta de dedicação à realização de bens fundamentais para a sociedade. Infelizmente, está tudo bem à vista, sendo que a conjetura, de um modo fácil, sempre nos permitiria tirar o que agora já é visível à vista desarmada. É uma mancha trágica que alastre a cada dia que passa.

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