Paula Ferreira e a Semana Cultural

Olá Andorinhas,
Quero esta semana homenagear e falar sobre a 17ª Semana de Cultura na Casa dos Açores do Quebec. A presidente, Paula Ferreira, comanda aquela organização com muita classe.
Uma equipa de pessoas positivas e muito ativa da nossa comunidade consegue fazer maravilhas, sempre com uma liderança incomparável. Bravo!
Posso descrever o sentido de bem-vindo que se sente nessa sala, na rua Fleury, onde essa organização junta grupos, políticos, artistas, músicos e pessoal da nossa comunidade, mas, de verdade, é preciso estar lá para perceber, ver e sentir tudo aquilo.
Quando entrei na quinta-feira, estava o Grupo Coral Reviver a fazer fila para entrar e cantar para a audiência, que esperava com antecipação. Senti, logo ali, um grande prazer e orgulho daquelas lindas pessoas que decoraram aquela sala com as suas vozes maravilhosas, acompanhando o acordeonista José Andrade e o guitarrista António Horácio de Melo. Estava sentada, mas com o pé a dar, e o meu coração a gostar de ouvir a nossa língua em vozes ricas, unidas pelo talento do Maestro José Gouveia, acompanhadas pelo acordeon e pela guitarra portuguesa. E estava a comunidade unida a apreciar a arte, a cultura, a poesia e o talento musical.
Também, Paula Ferreira agradeceu às duas organizadoras do Grupo Coral Reviver, Laura Cordeiro e Filomena Faria, que, sem elas, não existiria aquele grupo.
Eu, infelizmente, tive que buscar a minha filha ao seu curso de karaté, mas a comidinha que aqueceu os corações daquele pessoal deu-me inveja de não ter manchado uma linda mesa cheia de pratos regionais que dão sabor e enchem as barriguinhas com consolo e amor.
Quero também falar que, naquela semana, a Casa dos Açores do Quebec honrou a Fadista Jordelina Benfeito com o seu Prémio Carreira, reconhecendo os seus mais de 40 anos a partilhar e a promover o Fado na diáspora.
A Filarmónica do Divino Espírito Santo de Laval também fez a sua presença musical, e o autor José Luís Jácome, que escreveu os dois livros Les Saveurs des Açores e Querida Mãe, foi celebrado essa semana, só para citar alguns nomes.
Não se pode esquecer a poeta açoriana Natália Correia, que foi honrada e celebrada com a leitura do seu poema “Ode à Paz” e, através de “A Mala da Natália”.
Já estou a querer voltar à Casa dos Açores do Quebec só para o senso de comunidade que se encontra entre aquelas paredes e também para poder aprender sobre a Cultura Açoriana. Quero convidar os jovens a se juntarem aos nossos para poder continuar as nossas tradições.

Ode à Paz
Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,

Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
deixa passar a Vida!
Natália Correia, in “Inéditos (1985/1990)”

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