Dentro de poucos dias, as eleições municipais estão a chegar rápido, 2 de novembro, uma questão paira sobre Montreal: os eleitores vão finalmente comparecer às urnas em maior número? A história recente não convida ao otimismo.
Em 2021, apenas 38% dos eleitores montrealenses exerceram o seu direito de voto — uma descida em relação aos 42% registados nas eleições de 2017. Em Laval, a participação foi ainda mais baixa, ficando pelos 28%. Os números mostram um desinteresse crescente pela política local, tendência que os especialistas temem que se mantenha em 2025.
Nas últimas dez eleições municipais, a média de participação na cidade rondou os 43%, com o pico registado em 1998, quando ligeiramente mais de metade dos eleitores votaram. O ponto mais baixo foi em 2005, com apenas 34,9%.
O desinteresse pela política local
Para Samantha Reusch, diretora executiva da organização Apathy is Boring, o problema está enraizado nas mudanças geracionais. “As pessoas mais jovens não têm a mesma ligação às administrações locais, nem consomem os meios de comunicação locais como as gerações anteriores. Isso ajuda a explicar os números baixos”, afirma.
Ainda assim, Reusch sublinha a importância de relembrar o papel crucial dos municípios na vida quotidiana:
“As câmaras municipais são o nível de governo mais próximo das pessoas. Questões como o lixo, as estradas ou os serviços urbanos dependem diretamente delas. E, paradoxalmente, é o nível a que damos menos atenção.”
Obstáculos no processo de inscrição
Outro entrave à participação é o próprio sistema eleitoral do Québec.
Ao contrário das eleições federais, os cidadãos não podem inscrever-se no dia do voto. Devem fazê-lo até duas semanas antes — prazo que, em Montreal, terminou a 16 de outubro. Os eleitores que não confirmaram a sua inscrição no site da autoridade eleitoral local já não poderão votar.
“Esse requisito não deve ser subestimado — tem um impacto real na taxa de participação”, nota Reusch.


Falta de nomes fortes na corrida
A ausência de figuras conhecidas também pode desmotivar os eleitores. A atual presidente da Câmara, Valérie Plante, decidiu não se recandidatar, e a maioria dos partidos apresenta líderes novos ou pouco conhecidos. No fim, recorda o académico, cada voto conta — e pode fazer a diferença entre políticas de mobilidade opostas: uma gestão que queira controlar todas as ciclovias ou outra que defenda investir nelas.
Candidatos luso-canadianos em destaque:
Entre os rostos desta campanha, há vários candidatos de origem portuguesa que se apresentam em diferentes concelhos da região metropolitana de Montreal.

Action Montréal
Sónia Valente, Mile End
Natural e residente no bairro do Mile End, Sónia Valente quer retribuir à comunidade que a viu crescer. Defende habitação acessível, apoio ao comércio local e mais segurança nas ruas e ciclovias. “Quero ser uma vereadora próxima das pessoas. Unidos, construiremos um Mile End vibrante e inclusivo.”

Action Montréal
Emanuel Costa, Villeray
Comerciante e residente em Villeray, propõe medidas contra a gentrificação, mais segurança nos bairros multiculturais e melhor fluidez de transportes. “Pretendo um Villeray equilibrado, acessível e cheio de vida.”

Action Montréal
Sandrina Costa, Parc-Extension
Candidata pelo mesmo distrito, quer um bairro “mais limpo, mais seguro e mais próximo das necessidades dos moradores”, com prioridade à habitação digna, à mobilidade e à participação cidadã.

Ensemble Montréal
Lucília Santos, Jeanne-Mance
Advogada e residente do Plateau desde a infância, Lucília Santos alia mais de 20 anos de envolvimento comunitário a uma carreira dedicada à justiça social.
Inspirada pelos valores de solidariedade da sua família, quer reforçar a limpeza urbana, a segurança e o apoio às comunidades locais.
Entre as suas iniciativas destacam-se a promoção da educação entre jovens lusófonos e a organização do Dia de Portugal, entre 2007 e 2010.
“Quero representar os moradores de Jeanne-Mance com integridade, paixão e compromisso.”

Mouvement Citoyen Mirabel
Patrick Rebelo, Domaine-Vert Nord e Sainte-Monique
Residente em Mirabel há nove anos, Patrick Rebelo, licenciado em Humanidades, é consultor financeiro e antigo dirigente desportivo local. Candidato pela segunda vez, defende uma cidade moderna, transparente e sustentável. “As pessoas devem compreender como a sua cidade é gerida. Só assim podemos construir o futuro de Mirabel sobre bases sólidas.”

Équipe Anjou
Luís Miranda, Anjou
A sua entrada na política deu-se em 1989, quando foi eleito vereador do distrito Lucie-Bruneau. Poucos anos depois, tornou-se líder da Aliança Popular de Anjou e, em 1997, foi eleito presidente da Câmara de Anjou. Conhecido pela defesa firme da autonomia local, ao longo da carreira, integrou várias comissões municipais. Figura pragmática e de discurso direto, Luís Miranda é visto como um símbolo da persistência política na cena municipal do Québec, equilibrando o orgulho das suas raízes açorianas com uma longa carreira ao serviço da sua comunidade.
Não nos esqueçamos de que o dia 2 de novembro de 2025 será um momento decisivo para muitos. É tempo de exercer plenamente o direito de voto e de fazer ouvir a nossa voz nas urnas.
Viva a democracia — e viva os portugueses que continuam a marcar presença na política!
